A NARRAÇÃO DE UM SOPRO DE VIDA (PULSAÇÕES): UMA EXPERIÊNCIA EM LINGUAGEM
Resumo
Ao contemplar a linha de pesquisa "Processos narrativos, comunicacionais e poéticos" do Departamento de Letras da UNISC, cujo objetivo é construir sentido através da interpretação textual, buscando conhecer elementos e processos da narrativa e suas respectivas funções, nos propomos a desenvolver um trabalho monográfico voltado às relações entre a narração, a experiência e o texto Um sopro de vida (pulsações), da autora Clarice Lispector. Com reflexões metaficcionais e devaneios sobre questões que permeiam a complexidade de um ‘eu’ e a criação, a obra que analisamos tem um estilo próprio e é distante de representações miméticas clássicas, não busca “imitar” a vida ou realinhar o que se percebe em uma fina camada de realidade, mas sim propõe entrelinhas que permitem pensarmos o que está além do sentido imediato das coisas e vivências mundanas. A narrativa escapa a definidas classificações, leva-nos a viver junto do narrador-personagem uma experiência de “outrar-se” enquanto acontece na criação que um autor faz de uma personagem. Levantando questionamentos sobre o ficcional e o real, a sequência narrativa se constitui por fragmentos de duas vozes em diários. O narrador se desdobra e transcreve o processo de criação de uma personagem para buscar-se, conhecer-se, para iniciar e conduzir uma experiência, já que com a criação ele pode experimentar-se, ser outro. No enredo da obra, não há alguma história feita de acontecimentos, há fragmentos de uma busca de si no outro, e é nesse jogo que surge o questionamento da escrita e da linguagem proposta por Clarice. A linguagem de uma narrativa sendo a experiência de um corpo, espaço de inscrição em quem lê e em quem narra, é como a ex-posição de múltiplas marcas, que entendemos como fulcral na relação de um sujeito com a literatura. Tomamos a experiência como um acontecimento em um agora, vivido em um instante que algo se marca em um ‘eu’ sem que se tenha conhecimento imediato. É estar em recepção de afecções e percepções sem, momentaneamente, tomar consciência. Acreditamos que é pensando sobre suas experiências que o autor constrói sua imaginação, cria seu jogo de linguagem e dá início à escrita, à ficcionalidade, à literatura – sem esquecer, também, que a própria leitura é uma experiência, pois tem em si singularidades de quem lê. Por fim, em nosso estudo, expomos e comprovamos como as principais características da experiência aparecem na voz do narrador de Um sopro de vida, o que nos permite apontar que a narração da obra acontece em experiência – a do escritor, do narrador e do leitor. Assim, visamos não somente à análise da obra literária sob determinado viés, mas, principalmente, aprofundamos os estudos em um campo que consideramos fundamental, sobretudo na narrativa clariceana: a linguagem e o ser, os quais se desdobram em potencialidades e instauram novos sentidos à história contada.
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