CONSTRUÇÃO DE FRONTEIRAS, PERTENÇA E MEMÓRIA SOCIAL: REFLEXÕES DA PSICOLOGIA COMUNITÁRIA SOBRE O TRADICIONALISMO GAÚCHO

Mariana Soares Teixeira, Cleimar Luis dos Santos, Nivia Arlete Duarte, Luisa Tamara Leal, Moises Romanini

Resumo


Dentre a grande pluralidade cultural existente em nosso país, o estado do Rio Grande do Sul destaca-se com sua manifestação cultural mais visibilizada, o gauchismo ou Tradicionalismo Gaúcho. Por tradicionalismo, entende-se um conceito abrangente de atividades organizadas e regulamentadas, que celebram a figura do gaúcho e seu modo de viver no passado. São conjuntos de expressões que visam à reprodução do gaúcho do passado para a atualidade, de acordo com a autora Ceres Karam Brum (2009). Buscando compreender um pouco mais como se dá esse processo de reprodução de uma cultura, buscamos na autora Sandra Jovchelovitch(2011) os conceitos de pertença e mundo da vida, dentre os quais encontram-se as narrativas individuais e comunitárias entrelaçadas, objetivando a experiência do vínculo, produzindo a psicologia da pertença, ou seja, o sentimento de que nos encaixamos em um determinado meio cultural. Ainda mergulhados na obra dessa autora, trazemos à tona o conceito de memória social, o qual se refere às operações que permitem à comunidade reter tanto um sentido de continuidade e permanência quanto um sentido de desenvolvimento histórico e mudança, ressaltando que o já vivenciado não pode permanecer intacto na memória humana, pois a posição da qual o passado é evocado é fundamentalmente diferente daquela em que já foi vivido. Buscamos, então, apresentar como o tradicionalismo gaúcho vem se mantendo e perpetuando valores e modos de viver, mesmo com o passar do tempo e com as iminentes mudanças sociais. Empregamos, pois, como metodologia para esse fim, estudos teóricos e bibliográficos, diários de campo, observação participante e informações decorrentes de entrevistas semi-dirigidas com uma invernada adulta de um Centro de Tradições Gaúchas de uma cidade do Vale do Rio Pardo, com o intuito de compreender como essa prática se configura nos dias atuais. Diante do que foi observado, percebemos, através dos discursos dos participantes do grupo, que estes estão inseridos no movimento desde a mais tenra idade, através da família ou por intermédio dos amigos na fase da pré-adolescência. A reprodução e a manutenção das tradições, expressas por esse grupo, evidenciam barreiras bem delimitadas e rígidas, construídas pelos próprios indivíduos e pelo órgão responsável pela regulamentação das normas vigentes, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, não havendo, assim, espaço de discussão para mudanças de costumes, tanto pelos que estão inseridos quanto para os que estão do lado de fora. Baseando-se ainda no conceito de memória social, observamos que, com as mudanças decorrentes da sociedade, essas fronteiras tornam-se necessárias para que a tradição seja mantida e permaneça imutável. O tradicionalismo gaúcho se constrói e se perpetua através de normas bem definidas, mantendo sua constância, buscando não ser prejudicado pelo contexto social atual. As barreiras impostas pela cultura gaúcha frente às alterações no contexto social acarretam perdas e ganhos para o movimento, que vão além da continuidade da memória social. Nesse caso, o ganho pode estar atrelado ao poder e ao controle exercido pela instituição, observado nas relações entres os integrantes e no desinteresse de alguns jovens em participar do movimento.


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