DESAFIOS NA ATENÇÃO À SAÚDE DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS

Paola Scotta Ludtke, Maite Souza Magdalena, Amelia Natalia Marques Cerentini

Resumo


A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, aprovada em 2009 pelo Conselho Nacional de Saúde, prevê, em suas ações estratégicas, a ampliação e garantia do acesso da população LGBTT aos serviços de saúde, com um acolhimento humanizado e respeitando os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) de integralidade, igualdade e equidade. Entre o público LGBTT, as travestis e transexuais são as que mais sofrem preconceito e discriminação na sociedade, no ambiente familiar e também nos serviços de saúde, o que evidencia a necessidade de estudos que problematizem a atenção à saúde voltada a esse público. Neste estudo, objetivou-se identificar as dificuldades na assistência integral e humanizada às pessoas transexuais nos serviços de saúde. Estudo descritivo, quantitativo e qualitativo, realizado através de uma revisão de literatura, na qual se procedeu a uma pesquisa na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando-se os descritores “Transgênero” e “Serviços de Saúde para Pessoas Transgênero”, sendo selecionados os artigos disponíveis em português, que totalizaram seis. Os resultados apontam que o desrespeito do profissional com o usuário é um fato corriqueiro nos serviços de saúde. Considerando que todo indivíduo deve ter sua autonomia respeitada, toda forma de intolerância deve ser encarada como uma violação de direitos. Uma pesquisa transversal, quantitativa, realizada na Paraíba com 16 travestis e transexuais, em que o perfil das participantes trazia, em sua maioria, cabeleireiras e garotas de programa, aponta que 75% das entrevistadas já haviam sofrido algum tipo de violência, inclusive em serviços de saúde, sendo a violência verbal a mais frequente. A maioria das travestis e transexuais não são acolhidas de forma humanizada nos serviços de saúde e, como consequência, não têm suas necessidades atendidas. Um grande impedimento à atenção integral e humanizada a esse público é o julgamento e a estigmatização, que levam a violações de direitos, como o uso do nome de registro civil ao invés do nome social. Partindo desse pressuposto, pode-se perceber que o preconceito e discriminação são fatores adoecedores, que muitas vezes causam sofrimento ao usuário, podendo inclusive restringir o acesso dos mesmos aos serviços de saúde. Um estudo de abordagem qualitativa, realizado no Espírito Santo, aponta que o preconceito leva travestis e transexuais a evitarem os serviços de saúde, inclusive quando sofrem violência física e necessitam passar por exame de corpo de delito, pois além de lidar com a dor e sofrimento da violência, esses indivíduos estarão expostos ao julgamento dos profissionais que deveriam acolhê-los. O mesmo estudo traz que 60% trabalham ou já trabalharam como profissionais do sexo, confirmando que o acesso dessa população aos serviços de saúde é indispensável, para consultas com esclarecimento de dúvidas sobre prevenção de doenças e realização de exames de rotina. Conclui-se que a atenção à saúde de travestis e transexuais ainda é um grande desafio, necessitando de uma reflexão por parte dos profissionais quanto às suas atitudes, levando em consideração todas as questões éticas, para uma correta assistência a essa população, seguindo os princípios do SUS de universalidade, integralidade e equidade, respeitando o nome social adotado e evitando qualquer forma de preconceito e discriminação.


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