CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DA CANNABIS: UMA VISÃO NA PERSPECTIVA DA ABORDAGEM SISTÊMICA

Rafaela Henkes, DULCE GRASEL ZACHARIAS

Resumo


Este trabalho consiste em uma prática desenvolvida ao longo do Estágio Integrado em Psicologia I, realizado no Serviço Integrado de Saúde (SIS) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). O uso de drogas é tido hoje como um fenômeno mundial, tendo a sua origem em fatores diversos que estão interligados, como os orgânicos, os psicológicos, os culturais, os econômicos e os familiares. Contudo, tendo em vista que a família é o primeiro e mais relevante grupo com o qual nos relacionamos, ela exerce um papel fundamental na constituição da subjetividade de cada sujeito, sendo considerada como um fator de proteção ou de risco para o uso de substâncias químicas. Em razão disso, as relações familiares aparecerão como o cerne deste trabalho e, para tanto, valer-me-ei dos estudos de autores como Salvador Minuchin, Murray Bowen, entre outros, que abordam temas distintos à luz da perspectiva da abordagem sistêmica. Com o objetivo de relacionar a teoria com a prática clínica, a metodologia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso de uma jovem, de 22 anos, que segue em atendimento psicoterápico no referido Serviço e que faz o uso recreativo da substância química Cannabis. A jovem em questão mantém um relacionamento bastante conturbado com seus genitores, principalmente com o pai. Ela cresceu em um sistema com fronteiras rígidas, onde havia o distanciamento afetivo entre os membros dos subsistemas. Fica evidente o processo de projeção familiar, em que seus pais transmitiram a ela a sua imaturidade e indiferenciação de self, resultando em um desequilíbrio entre os pensamentos e sentimentos da jovem, o que faz com que ela responda às pressões emocionais com um humor depressivo, buscando, por vezes, uma maneira de sentir-se melhor com o uso da droga. A referida jovem traz consigo um histórico de violências físicas sofridas na infância por parte do seu genitor. Ela apresenta intensa ansiedade, uma baixa autoestima e uma resiliência fragilizada, tendo já manifestado pensamentos suicidas em um momento de pressão por uma situação adversa. Devido ao seu funcionamento depressivo, a jovem apresenta estado de desânimo, dificuldades de concentração e de memória, sintomas que, ao que tudo indica, são agravados pelo uso prolongado da Cannabis. No que concerne ao uso de drogas, conclui-se que, frequentemente, é na família que está a origem do problema, como no caso em questão, em que a dinâmica do relacionamento familiar consistiu num fator fortemente contribuinte para o envolvimento da jovem com a já referida substância. Destaco, também, a importância de que deva partir da própria família atitudes condizentes para o bom enfrentamento e solução do caso. Pude ver, outrossim, nos textos examinados, como as técnicas e a atenção dos psicólogos revestem-se da maior importância para a obtenção de êxito nesse intento. Acredito que pensar um mundo sem drogas é uma utopia, pois elas sempre existiram na história da humanidade. No entanto, o nosso papel como cidadãos e, principalmente, como profissionais da área da saúde é desafiador e relevante na contribuição para reduzir ao máximo os danos delas advindos, seja no âmbito da prevenção, seja no do tratamento, contribuindo, por outro lado, também, para que um conhecimento ainda maior sobre o assunto ocorra e que novas soluções sejam encontradas, a fim de que se obtenham resultados mais positivos em relação a tudo o que diz respeito a esse tema.

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