O ATENDIMENTO COM CRIANÇAS SOB A ÓTICA DA PSICANÁLISE EM UM SERVIÇO-ESCOLA

Caroline Maria Nunes, Carina Ferreira dos Santos, Edna Linhares Garcia

Resumo


O presente estudo se constitui em um Serviço-Escola de uma Universidade Comunitária do Rio Grande do Sul, com o intuito de refletir sobre o atendimento com crianças, sendo relevante pensar sobre os instrumentos que a abordagem psicanalítica dispõe. Desse modo, se faz necessário destacar a psicanalista Arminda Aberastury, que é por excelência uma referência, tendo em vista sua trajetória no campo da análise infantil. Aberastury ressalta a importância dos instrumentos lúdicos nos atendimentos, que permitem às crianças a possibilidade de repetir situações que foram prazerosas e dolorosas, tornando-a significativa para o tratamento psicanalítico. Anteriormente, Freud (1917-1920) percebeu que durante a repetição das brincadeiras, a criança podia deslocar para o exterior suas angústias e medos, como também era capaz de permitir na atividade lúdica, papéis e situações que são proibidas interna e externamente. Assim sendo, objetiva-se evidenciar neste trabalho a importância do brincar para o tratamento com crianças, abarcando os principais conceitos que sustentam a técnica, bem como ilustrar passagens de casos clínicos atendidos com crianças. Tornou-se importante explorar a bibliografia psicanalítica, tendo em vista a utilização do método da escuta que implica a liberdade do sujeito de se expressar e a compreensão dos desejos singulares que sustentam as demandas. Para Aberastury, os jogos são atividades plenas de sentido, cuja função é a de elaborar as situações traumáticas, cumprindo uma função catártica por meio da repetição dos fatos que acontecem cotidianamente. Costa faz referência à Françoise Dolto ao dizer que o trabalho do psicanalista consiste em esclarecer para o paciente sobre seus desejos inconscientes. Diferentemente do que ocorre na análise com adultos, o psicanalista deverá observar a criança e auxiliá-la a colocar em palavras suas angústias, seus medos e demandas. De modo diverso a Melanie Klein, que popularizou a técnica do brincar, Françoise Dolto utilizou principalmente a fala, o desenho e a modelagem para que a criança pudesse expressar seus conflitos internos. Outro psicanalista de grande importância é Winnicott o qual ressalta que a angústia é sempre um fator na brincadeira infantil e frequentemente um fator dominante. A ameaça de um excesso de angústia conduz à brincadeira compulsiva ou à brincadeira repetida. Como resultados, apontamos, através de um recorte bibliográfico, algumas contribuições históricas de conceitos que fundamentam a relevância do brincar no setting terapêutico. Consideramos que o papel do psicoterapeuta será oferecer o suporte necessário à criança para que consiga enfrentar e lidar com as angústias emergentes. Em todos os casos clínicos analisados, tornou-se evidente que o brincar poderá auxiliar a criança a atribuir significado sobre aquilo que está sendo expresso, além de servir como um meio de comunicação de conteúdos latentes que precisam ser ditos e escutados pelos outros que lhes são importantes. Além disso, pode-se definir o brincar como um aliado recurso terapêutico para a construção psíquica da criança, fazendo com que aos poucos perceba-se enquanto sujeito, tornando-se capaz de passar por uma transição que envolva o mundo real e imaginário. 

Palavras-chave: Brincar. Clínica Psicanalítica. Escuta.


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