DIÁLOGOS COM A REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL

Guilherme Santana, Sabrina Zotti, Teresinha Eduardes Klafke

Resumo


Este trabalho é o resultado de uma análise/intervenção institucional realizada na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, tendo os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade como alvos primários do trabalho. Essa análise foi desenvolvida ao longo de três semestres, como parte integrante da disciplina Estágio Integrado em Psicologia I e II do curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Nossa análise buscou compreender qual é a situação atual do trabalho em rede, a partir do olhar de diferentes serviços que fazem parte da RAPS, através de visitas e discussões em seus respectivos espaços, numa tentativa de esclarecer e trabalhar as diferenças encontradas, a fim de contribuir para o bom funcionamento dessa rede. Como essa cidade adotou um sistema de informatização dos prontuários dos usuários da rede (para a atenção básica e especializada), esse foi um dos tópicos de discussão com as equipes visitadas, quando buscamos descobrir a importância dessa ferramenta para os trabalhadores, além de outras questões relacionadas a seu uso. Após a conclusão das visitas, percebemos que existem algumas questões em comum entre diversos locais. Notamos uma falta de clareza sobre as atribuições de cada serviço, fato evidenciado tanto através de reclamações sobre outros locais como através de ideias equivocadas evidenciadas nos discursos. Outro ponto bastante evidente nas falas foi a questão da alta rotatividade de funcionários. A questão trazida pelos profissionais é que por isso o trabalho de difusão de informações e a estabilidade da rede se perdem, necessitando esforços repetidos em questões que já haviam sido resolvidas. Também relacionado à questão da desinformação, está a constante reclamação dos serviços de que os outros locais não cumprem com suas atribuições. É difícil ocorrer a reflexão de que, como parte da rede, o próprio serviço também é responsável pelo seu bom funcionamento. Geralmente, os locais, em meio a demandas excessivas, não conseguem desviar o olhar de sua situação interna para a situação geral. Todos os serviços comentaram, de alguma forma, sobre a importância da boa utilização do sistema informatizado. Porém, em nenhum deles há uma forma padronizada de preenchimento do prontuário eletrônico, o que prejudica a sua utilização, tanto por quem escreve como por quem lê. Ficou nítida a importância da informatização, mas a utilização desse sistema ainda enfrenta barreiras, seja pela dificuldade em lidar com a tecnologia, seja por resistências dos próprios profissionais. Com a realização dessa análise, tivemos a oportunidade de conhecer diferentes equipes, cada qual com suas particularidades, além de entrarmos em contato com a singularidade de cada serviço. Estar diante disso nos possibilitou compreender melhor essa rede de cuidado. Não identificamos apenas fragilidades, mas também as potencialidades dos locais e da rede. Essas potencialidades nos mostraram que a situação está evoluindo, que há pessoas engajadas nessa causa e que trabalham para ela, pela evolução do Sistema Único de Saúde (SUS) como um todo. Pudemos perceber, ao final, que não é só nos problemas que os serviços se relacionam, mas também na construção diária da rede. Já foram realizadas reuniões de devolução e discussão à metade dos serviços visitados, e nos reuniremos com a outra metade durante o atual semestre para novas discussões.

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