PENSANDO A PRÁTICA DA TRIAGEM EM UM CAPS I

Juliana Rohde, Karla Gomes Nunes, Teresinha Eduardes Klafke

Resumo


Um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) I, em um município de pequeno porte no interior do Rio Grande do Sul, recebe todos os dias pessoas que buscam por atendimento para questões de saúde mental. Diante deste sujeito que busca por uma resolutiva para o seu sofrimento, é necessário que se produza um entendimento do que está acontecendo, do que o levou a este encaminhamento. No CAPS em questão, o procedimento para entender a demanda do sujeito chama-se triagem e será o tema deste estudo. Se buscará abordar o conceito de triagem e como este procedimento ocorre no CAPS, problematizando-o em relação à perspectiva do acolhimento, tendo em vista que este último é uma diretriz da Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde. Trata-se de um estudo de caso, que é resultado de observações do cotidiano de trabalho do local em questão. A inserção neste espaço deu-se através de um estágio do curso de Psicologia. Neste CAPS I, o procedimento de receber e escutar o sujeito que vem encaminhado de outro serviço de saúde é chamado de Triagem. Penna, Faria e Rezende (2014), ao problematizarem a questão da triagem versus a prática do acolhimento, afirmam que o acolhimento vai além da triagem. A triagem tem caráter decisivo, uma vez que “triar” presume separação e escolha. É um termo utilizado para designar um procedimento para classificação de necessidade e encaminhamento, realizado de forma tecnicista e buscando resolutivas imediatas e com rapidez, sem garantir acompanhamento adequado. Ballarin et. al. (2011) apontam a importância de que não se confunda triagem com o acolhimento – o que entendem que vem acontecendo com frequência – uma vez que este último envolve outros aspectos importantes, desde escuta qualificada até processos de reorganização do trabalho. O acolhimento pode ser entendido como uma ação técnico-assistencial, que busca uma modificação na forma como profissional e usuário se relacionam, e há a construção de vínculo, reconhecendo o sujeito enquanto parte ativa na construção do tratamento. Estas mudanças são sustentadas por parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade (BRASIL, 2004). Jorge et. al. (2011) afirmam que o acolhimento e o vínculo são essenciais entre o usuário e o profissional de saúde mental, uma vez que facilitam a construção da autonomia, mediante responsabilização compartilhada e pactuada entre os sujeitos envolvidos. O acolhimento ainda reafirma o princípio de universalidade do SUS, em uma lógica usuário-centrada, bem como é guiado pela lógica da integralidade do cuidado. Em um serviço de saúde onde os encaminhamentos se dão a partir de uma triagem, e não de uma acolhida, como no CAPS I estudado, muitas vezes a construção de um tratamento em que o sujeito seja entendido e assistido a partir da sua integralidade pode não se efetivar. Da forma como têm sido norteadas as ações neste serviço, e partindo do dispositivo da triagem, muitas vezes isso acaba não acontecendo, e o que se propõe enquanto terapêutica são ações isoladas, pontuais e pouco integradas. Pensando no usuário, a triagem enquanto procedimento único e isolado no momento de recebê-lo no serviço talvez não seja o mais interessante, mas, se esta prática integrar um procedimento mais amplo e que dê conta de mais coisas, pode ser muito positivo e proveitoso. Essas reflexões fazem parte de um processo de análise institucional realizada neste local de estágio e serão trabalhadas junto à equipe.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.