DA TRANSCRIÇÃO PARA A RETEXTUALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA

Brenda de Góis Cardoso, Laura Silveira Aguiar, Ashlei Nicole Frey Czekalski, Cristiane Dall Cortivo Lebler

Resumo


A referida pesquisa, produzida no decorrer da disciplina de Sociolinguística, no semestre de 2016/2, tenciona reunir os estudos acerca dos processos de transcrição, transcodificação e retextualização e tem como base os estudos sociolinguísticos orientados pela professora Cristiane Dall Cortivo Lebler. Nosso objetivo, enquanto acadêmicas do Curso de Letras, é apresentar, de forma clara, como as marcas da oralidade, específicas de cada falante, se perdem com o texto escrito e que nem mesmo a transcrição pode reproduzir o texto oral com exatidão. Segundo Marcuschi (2010), fala e escrita são duas modalidades linguísticas que se dão em práticas sociais específicas; não devemos atribuir a nenhuma das modalidades um poder de supremacia, pois ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes. Para Flôres e Silva (2005), a fala e a escrita pertencem ao âmbito social do ser humano; a primeira, uma capacidade natural adquirida por meio das relações sociais desde a infância, esteve presente em todas as sociedades como a principal forma de comunicação entre as pessoas; a segunda, criada pelo homem, necessita ser ensinada através da alfabetização e é utilizada para diversas funções. Sabemos que a fala e a escrita não podem ser descritas como opostas ou dicotômicas e que esta não pode ser considerada uma representação daquela. Compreendemos, então, a fala como objeto sonoro e a escrita como objeto gráfico da língua, sendo, portanto, duas modalidades diferentes da linguagem. Os processos de transcrição e transcodificação, utilizados no desenvolvimento da retextualização, fazem parte de um mesmo mecanismo, que é a passagem do texto falado para o texto escrito. A transcrição representa graficamente o que foi emitido de forma sonora, respeitando uma série de regras estabelecidas. Seu resultado, entretanto, ainda não pode ser visto como uma retextualização, já que esta se trata da reorganização e da adaptação do texto de acordo com outro código. Esse trabalho foi desenvolvido em três etapas: uma entrevista oral, gravada com a autorização do informante; uma transcrição, baseada nos estudos dos textos adotados como referência; e duas retextualizações, uma com a manutenção dos turnos e outra com a eliminação dos turnos e a introdução do discurso indireto. Observamos, na terceira etapa, que o texto oral, quando retextualizado, perde todas as marcas características da oralidade, como gesticulação, precisão, coloquialismo, entonação da voz, redundâncias, reformulação de pensamentos através de novas frases, pausas, alongamentos de vogais e consoantes, expressão corporal e facial, fatores internos e externos, funções fáticas. Ao transcrevermos e retextualizarmos a entrevista oral, notamos que é um objetivo intangível reproduzir a fala fielmente, pois há fatores externos e internos que influenciam esse processo, e ainda não conseguimos captar e transmitir na modalidade do texto escrito. Por fim, constatamos que essa transformação, da linguagem falada para a linguagem escrita, não se dá através de um processo sutil. Por isso a escrita apresenta variações estilísticas específicas com o objetivo de causar o mesmo impacto no leitor. Cada uma das modalidades da linguagem é especial com suas singularidades, seja pelo afinamento da voz ou pela pontuação dos parágrafos, no fim tudo acaba em língua.


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