GÊNERO E SEXUALIDADE: MÍDIA E PRODUÇÃO DE VERDADES

Deborah Beatriz Endler Barrionuevo, Diorginis Luis Fontoura da Rosa, Leticia Silva Holderbaun, Betina Hillesheim

Resumo


O presente trabalho tem como objetivo apresentar as discussões de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida na disciplina de Pesquisa Aplicada à Psicologia II, do Curso de Psicologia, em que se busca problematizar as verdades produzidas na mídia sobre gênero e sexualidade, articulando-as com os campos de saber que as sustentam. Para tanto, parte-se de uma perspectiva não essencialista acerca dos conceitos de gênero e de sexualidade, fundamentando a discussão em autores pós-estruturalistas, tais como Judith Butler e Michel Foucault. Por estar em andamento, a pesquisa aqui descrita produziu, até então, dados parciais. Como procedimentos metodológicos, optou-se por realizar uma pesquisa documental, elegendo, como materialidade de estudo, exemplares da Revista Donna, encarte das edições de domingo do jornal Zero Hora, no período de 09 e 10 de junho a 18 e 19 de agosto de 2018. A partir disso, selecionou-se um total de 37 matérias dessa revista que abordam os temas gênero e sexualidade, os quais foram divididos, posteriormente, em três categorias de análise: (1) feminismo e corpo das mulheres; (2) discursos sobre a sexualidade; e (3) discursos sobre a diversidade sexual e de gênero. Para a análise dos dados, emprega-se a noção de verdade, na definição de Foucault, como ferramenta conceitual. Gênero e sexualidade são tomados, aqui, como instâncias historicamente construídas, compreendidas em uma dimensão de temporalidade social. Desse modo, entende-se a sexualidade como uma temática central na sociedade moderna, sendo que os discursos acerca da sexualidade e do gênero, circulantes por todo o espaço social, se constituem como pedagogias culturais, operando, dessa forma, como ferramentas de aprendizagem de determinados modos de ser e estar no mundo. Assim, toma-se a mídia como um artefato cultural produtor de verdades, que, devido à sua presença ubíqua, constitui-se como uma potente ferramenta pedagógica. Além disso, os sentidos atribuídos aos conteúdos veiculados pela mídia são rearranjados a partir de eixos históricos, em ideias e práticas que se perpetuam nas diversas esferas sociais. Nesse contexto, a Revista Donna, direcionada à população feminina, regularmente aborda temáticas relativas ao gênero e à sexualidade. Através da classificação das publicações selecionadas em categorias de análise, identificou-se: 27 publicações relativas ao feminismo e corpo das mulheres, 8, aos discursos sobre a sexualidade, e 07, aos discursos sobre a diversidade sexual e de gênero. É possível observar, no material selecionado, que as discussões sobre gênero se centram em um discurso feminista que se apresenta como um imperativo, bem como a diversidade sexual e de gênero, evidenciando-se um chamamento à responsabilidade social de promovê-las. A sexualidade ganha visibilidade e é colocada em posição de centralidade, através da incitação à investigação do corpo e da responsabilidade individual de explorá-la e descobri-la em si mesmo. Além disso, essa discussão se mostra vinculada ao discurso feminista, ao passo que a expressão da sexualidade feminina é atrelada, por vezes, à noção de empoderamento feminino, recorrente nas matérias de cunho feminista. Nesse sentido, a abordagem de temáticas relativas ao gênero e à sexualidade, no material selecionado, reflete uma série de imperativos do tempo atual, que acabam por evidenciar o papel da mídia na produção de verdades acerca do gênero e da sexualidade.

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