O DESLOCAMENTO LÍRICO DE UMA BAGAGEM IDENTITÁRIA: REFLEXÕES SOBRE A TIPOLOGIA DO VIAJANTE NA OBRA "O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO"

Giulio Daniel Mello, Rafael Eisinger Guimaraes

Resumo


Este trabalho tem por objetivo demonstrar a multiplicidade da figuração do viajante na obra O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger. Na trama, narrada em primeira pessoa, o personagem Holden Caulfield é um jovem estudante com um histórico conturbado em relação ao seu desempenho escolar, fato que demonstra sua precariedade emocional, pois, tendo ao longo da adolescência passado por diversas escolas e consequentemente não se adaptando a nenhuma dessas experiências, ele se empenha em encontrar um caminho abstrato para a sua enorme gama de impasses. Em sua última estadia escolar, após uma expulsão por falta de empenho, o personagem toma a iniciativa de aventurar-se, vagando pela cidade de Nova Iorque, buscando respostas para seus anseios amorosos e familiares, antes de retornar para casa e dar a notícia da expulsão para os seus pais. A trama, à primeira vista, parece ser simples e direta, porém, os questionamentos do personagem e a sua falta de encaixe no mundo edificam uma desventura com um clima de viagem existencial, um deslocamento tortuoso pelo mundo exterior (ruas da cidade americana) e interior (pensamentos e sentimentos do jovem), quebrando a visão reducionista que percebe esse jovem apenas como alguém mimado em sua aventura egoísta sem um propósito objetivo. Com esses diversos aspectos, conseguimos questionar a posição de Holden como viajante dentro do romance em questão. Zilá Bernd apresenta, no texto Figurações do deslocamento nas literaturas das Américas, basicamente três tipos de viajante: o viajante, cujo objetivo se configura na própria jornada sem um fim específico; o itinerante, que põe o final da jornada como seu principal objetivo; e o barqueiro, que se apresenta na forma de uma ponte, de um meio de passagem. Além dessas três especificações existe a viagem que se configura na transformação ou na metamorfose do ser, que geralmente se manifesta como um rito de passagem ou um amadurecimento interno do personagem. A partir desse embasamento, tomaremos como metodologia uma análise voltada para as entrelinhas da trama, investigando de uma maneira minuciosa as ações e as intenções manifestadas de forma interna, a partir do fluxo de consciência do personagem-narrador, identificando as ramificações apresentadas pela tipologia elaborada pela teoria. Holden Caulfield é um personagem, que, através de suas excentricidades, desabrocha uma complexidade no efeito do ser, possibilitando um olhar poético e abrangente para suas decisões impregnadas de sentimentos inflamados.


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