UM OLHAR PSICOLÓGICO PARA A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Lilian Thais Konzen, Roselaine Berenice Ferreira da Silva

Resumo


Tendo em vista o abarrotamento do Judiciário e a morosidade da prestação do serviço jurídico causado pela explosão da litigiosidade em nosso país, a mediação de conflitos surge como método adequado para tratar daqueles conflitos em que há desgaste emocional e psicológico dos envolvidos. Visa à autocomposição e à manutenção dos vínculos a partir da retomada do diálogo e do respeito. O conflito é permeado por questões emocionais, relacionais e psíquicas, as quais também devem ser identificadas no processo de mediação e manejadas de forma adequada. O presente resumo tem por objetivo compreender a mediação de conflitos tendo em vista o conhecimento advindo da ciência psicológica.  É construído através da participação como bolsista no projeto de extensão “A crise da jurisdição e a cultura da paz: a mediação como meio democrático, autônomo e consensuado de tratar dos conflitos” e utiliza enquanto metodologia a pesquisa bibliográfica. Messa (2010) identifica que em termos psicológicos a mediação se mostra benéfica para as partes ao proporcionar um deslocamento de emoções negativas para positivas, focalizando naquilo que há de bom na situação/relação. Assim, auxilia-se aos mediados para que encontrem novos interesses, negociando para deslocar o foco da queixa e possibilitar a construção de um novo caminho. Dessa forma, permite-se que sejam exercitados aspectos da personalidade que dizem respeito à autonomia, ao autocontrole e a independência. Outro aspecto que é percebido como essencial para a boa mediação se trata da figura do acolhimento. Este conceito é conhecido e utilizado pela Psicologia e significa reconhecer o outro na sua dignidade, colocando-se acessível e ouvindo o sujeito de forma sensível e empática (BRASIL, 2006). Portanto, cabe ao mediador estar atento às demandas apresentadas pelas partes, escutando ativamente e adotando uma postura empática diante do outro. A partir do verdadeiro encontro com o outro será possível estabelecer entre mediandos e mediados o compromisso e a confiança essenciais para o desenrolar do processo, sendo o mediador figura capaz de melhor acolher e apoiar as partes diante do sofrimento existente (PELISOLI, 2014). Rezende e Mandelbaum (2015) também ressaltam a importância da escuta para o bom andamento da mediação. Referem a contribuição da Psicanálise e utilizam o conceito de atenção flutuante, cuja técnica visa oferecer a mesma atenção a tudo que o terapeuta/mediador está ouvindo. Esta técnica auxilia a evitar uma atenção dirigida ou proposital, na qual o ouvinte seleciona o que irá ouvir, tendo em vista as suas expectativas ou inclinações. Quanto à figura do mediador é necessário destacar a importância da análise pessoal, pois a resposta emocional do analista/mediador trata-se de uma importante ferramenta para o trabalho no contexto da mediação. É possível lançar mão destas técnicas e beneficiar-se das mesmas, e estando atento às suas emoções e processos contratransferenciais o mediador poderá utilizar-se dos mesmos e encontrar auxílio no trabalho com mediações (REZENDE; MANDELBAUM, 2015). Através da interdisciplinaridade é possível a melhor compreensão das demandas individuais/intrapsíquicas e relacionais dos indivíduos. Dessa forma, o entendimento e a aplicação dos conceitos acima apresentados mostram a Psicologia como uma ciência com capacidade para contribuir não somente com o procedimento e a forma, mas especialmente com o êxito das mediações.  


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