ADOLESCÊNCIA E DROGADIÇÃO: GRUPO FOCAL COMO UM ESPAÇO DE ESCUTA E REFLEXÃO
Resumo
Grupo focal (GF) refere-se a uma técnica de pesquisa qualitativa que propõe produção de dados de um tema por meio da interação entre pessoas. De origem anglo-saxônica, o método foi criado em torno da década de 1940, mas sua aplicabilidade foi acentuada entre as décadas de 1980-1990 em estudos sobre saúde pública. O GF busca proporcionar um espaço aberto e acessível de discussões, percepções, pontos de vista, crenças de um determinado tema, sugerido pelo pesquisador e/ou facilitador. Através desta técnica, a pesquisa “Narrativas de adolescentes sobre drogas e os Serviços de Saúde Mental CAPSia e CAPSad: intersecções possíveis no contexto de Santa Cruz do Sul”, em parceria com o Programa Saúde na Escola do referido município, discorre sobre a temática da droga e drogadição junto com adolescentes de escolas públicas estaduais e municipais entre 12 a 18 anos de idade. O presente resumo constitui um recorte da pesquisa citada e se propõe compreender as possibilidades e limitações da técnica de GF. Para isso, buscou-se realizar uma revisão bibliográfica sobre o assunto, articulando as reflexões das experiências vivenciadas pelas pesquisadoras/facilitadoras juntamente com os adolescentes. Os GFs realizados pela pesquisa são compostos por 2 ou 3 facilitadoras/pesquisadoras, com no máximo 15 alunos, ocorrendo três encontros semanais consecutivos, com duração de até 60 minutos e utiliza-se como disparador da discussão o tema drogas. No primeiro encontro, após os esclarecimentos sobre a pesquisa é realizada uma “chuva de ideias”, em que se inicia a produção de conteúdos artísticos sob um papel-pardo, revistas para recorte e canetas coloridas. No segundo encontro, é desenvolvida uma discussão com os participantes acerca das perspectivas produzidas anteriormente, e no terceiro momento acontece uma atividade de produção lúdica a fim de possibilitar expressões e reflexões dos alunos sobre o tema focal. A proposta do tema sobre drogas com adolescentes, vai ao encontro com o que a literatura nos apresenta: a ação de propiciar um ambiente acessível e aberto com um tema de interesse ao grupo. Durante os encontros ocorre uma relação horizontal e congruente entre as pesquisadoras e pesquisados, que estimula o interesse dos envolvidos apesar das faixas etárias serem variadas, o espaço propicia uma troca de saberes e possibilita uma construção de discursos coletivos, demonstrando a criticidade e capacidade de reflexão entre os pares. Percebemos como limitação da atividade a existência de uma ampla demanda de continuidade sobre a temática nos locais visitados que abrem possibilidades para futuras intervenções. Em relação à literatura, encontramos que o número de participantes recomendado em GFs varia entre 6 a 15 pessoas. Durante a realização da pesquisa, em alguns casos isolados, tivemos a experiência de acolher um número maior de participantes do que o indicado e presenciamos a ocorrência de conversas paralelas entre os adolescentes que, de modo geral, prejudicou o andamento da atividade. Outra dificuldade encontrada foi a de assegurar a circulação da palavra quando algum participante do GF tende a monopolizá-la. Embora enfrentando esses obstáculos a técnica de GF se mostrou adequada aos propósitos da pesquisa, principalmente ao que diz respeito a ser um espaço em que a escuta se qualifica na produção dos sentidos sobre a temática drogas e drogadição no âmbito da adolescência.
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