REFLEXÕES SOBRE A FAMÍLIA DE ORIGEM

Dulce Grasel Zacharias, Etiane Pereira Moreira

Resumo


 

Apresento um estudo de caso sobre a história de vida de duas pacientes em acompanhamento de Psicoterapia Individual no Serviço Integrado de Saúde – SIS, da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Orientada pela Psicologia Sistêmica, que permite um aprofundamento nas configurações familiares entendendo o sujeito em seu sistema familiar, teoria que norteia minha prática como estagiária do SIS, aprofundei o estudo das famílias de Meg e Eva (nomes fictícios). Eva tem 36 anos, é casada há 24 anos e tem dois filhos. Não trabalha, cuida da casa e da educação dos filhos. Em sua história, passou pela separação marcante dos pais, sendo afastada de seu pai, sofreu abuso sexual do padrasto. Uniu-se com seu atual marido quando tinha 12 anos. Tem crises nervosas, sensações de inchaço e tremores, todos estes, afirma, são de origem psicológica, passou por duas gestações psicológicas. Com a morte do sogro, há 11 anos, parou de sorrir. Meg tem 45 anos, vive em união estável há 16 anos e não tem filhos. Trabalha na área publicitária, sendo formada em Publicidade e Relações Públicas. Em sua história, passou pela separação dos pais, sentida por ela como o melhor a se fazer devido a violência psicológica que sofria, sempre correu muito atrás de seus sonhos e considera-se precavida, possui plano funerário e testamento. Tem sintomas de ansiedade e medos que não consegue lidar, teve ataques de pânico no passado. Reviver as famílias de origem é um movimento que estas mulheres fazem para explicar o que hoje são, sendo que aquilo que vivenciaram em seu ambiente familiar nos períodos da infância e juventude, reflete nos sintomas que carregam consigo e nas configurações de ser pessoal e familiar que construíram para si. Sendo a família um laboratório de relações humanas, é neste laboratório que, coexistindo, convivendo e agindo, formulamos os valores que irão nortear nossas vidas através das vivências e das formas de pensar e agir que nos foram transmitidas. Estes valores podem servir para nos tornarmos sujeitos autônomos e saudáveis, ou mesmo, impedir um pleno desenvolvimento implicando em traumas que carregaremos durante a construção de nossa história, influindo sobre nossas decisões, conquistas e frustrações. Estas duas mulheres têm alguns fatos de suas histórias em comum, outros que se diferenciam e se afastam, para se aproximarem e se afastarem novamente. Dentre as aproximações estão: o divórcio dos pais - que representa para cada uma sentido próprio; o ato de violência psicológica e física que ambas sofreram; a necessidade de seguir em frente e ter um companheiro de caminhada; a necessidade de reencontrar o pai, bem como as concepções de família que constituíram influenciadas pela configuração que vivenciaram em sua criação. Neste reviver e resignificar sua história, Meg e Eva puderam falar sobre seus traumas, definindo suas vidas e libertando seus receios e medos. Minha função enquanto terapeuta está em motivar e inspirar os pacientes a articularem-se entre o que expressam e o que sentem, entre o que percebem e como agem, potencializando formas de se organizar em relação a si próprio e às suas relações. Assim, a possibilidade da qualidade afetivo/emocional do indivíduo adulto está em sua capacidade de se tornar responsável por sua história futura e em se aprimorar elaborando seus traumas, a fim de se tornar um adulto enriquecido por sua história de vida passada, independentemente de como ela tenha sido.

 


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