CAPS E FAMÍLIA: COMO FAZER O CUIDADO?
Resumo
Tendo em vista os avanços no campo da saúde mental a partir da Reforma Psiquiátrica, a família passou a ter papel central na participação com o cuidado dos portadores de sofrimento psíquico, pois, conforme a Reforma preconiza, o tratamento não deve se dar em longas internações em hospitais psiquiátricos, mas sim, em serviços abertos que atuem em rede com os demais serviços públicos de saúde e sempre com a participação dos familiares. Assim, este trabalho relata uma experiência de cuidado com o portador de sofrimento psíquico dentro do seu ambiente familiar, tendo como “pano de fundo” a vivência do Grupo de Familiares existente no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS I) de uma cidade de pequeno porte do interior do estado do Rio Grande do Sul, onde foi realizado o Estágio Curricular do Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul. O Grupo de Familiares do CAPS é composto, principalmente, por mães ou irmãs de usuários portadores de sofrimento psíquico. Esse grupo tem por objetivo oferecer um suporte aos familiares, tanto no sentido de ser um espaço para tirar dúvidas sobre o tratamento e o manejo com o usuário, como um momento para que o familiar cuidador possa desabafar, falar das suas angústias e do seu cansaço, mas também falar de si mesmo enquanto pessoa, não somente enquanto cuidador. Chama atenção neste grupo que alguns participantes são familiares de usuários que não estão vinculados a nenhuma atividade cotidiana no CAPS, somente às consultas médicas e à aplicação de medicação, sendo usuários que têm dificuldade de aderir às outras propostas de tratamento. Dessa forma, pode-se dizer que o vínculo mais significativo que se tem com esses usuários é através dos familiares que comparecem ao grupo. Assim, fica clara a importância de envolver a família no tratamento. Outra característica marcante no grupo é o fato de a maioria dos cuidadores serem mulheres. Além das questões de Gênero, são inúmeros os atravessamentos que configuram o grupo: a sobrecarga familiar, o fato de a maioria dos portadores de sofrimento psíquico não trabalhar, o medo e o estigma em relação à doença mental, questões de ordem religiosa, entre outras. A proposta de reinserção social do doente mental e a sua aproximação com a família não é uma tarefa fácil. Ao mesmo tempo em que as famílias anseiam por ter todos os seus membros próximos, elas também refletem o medo e o preconceito existente em nossa sociedade, o que, muitas vezes, pode deixá-las resistentes a acolher o ente que adoeceu. Percebe-se neste Grupo de Familiares que os seus participantes o reconhecem enquanto um espaço terapêutico, de ajuda nos momento difíceis, de troca de experiências e de fortalecimento, enfim, um espaço que cuida daqueles que cuidam. A Reforma Psiquiátrica, a temática do cuidado e as questões familiares nos colocam inúmeros desafios, como a compreensão da indissociabilidade entre indivíduo e família, estando aí compreendidos aspectos de adoecimento e de cuidado. O trabalho com as famílias requer o estabelecimento de relações de cuidado com o cuidador e não apenas a relação com o familiar no papel de familiar, isto é, uma relação que se volta para ouvir como esta pessoa se sente e como está sendo para ela cuidar e conviver numa família, onde há a presença de muito sofrimento psíquico, e não apenas trabalhar questões de como esta pessoa pode ajudar o seu familiar, o que deve fazer ou não fazer para que ele melhore.
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