A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA E A PSICOTERAPIA NO SERVIÇO INTEGRADO DE SAÚDE – SIS/UNISC
Resumo
A deficiência pode ser compreendida como uma limitação herdada biologicamente, decorrente de problemas sociais básicos não resolvidos (como acesso à educação e à saúde), e mesmo por falta de tato no trato com os demais seres humanos, animais e consigo mesmo. Sob esta óptica, não há quem, de fato, seja eficiente ou não-deficiente. A deficiência em nossa cultura representa o incontrolável e inesperado, ameaçando e desorganizando as bases existenciais do outro não-deficiente. Sob esse viés, resolvi escrever sobre a prática clínica em Psicologia. Durante o corrente ano, tenho atendido um menino de dez anos vítima de acidente de trânsito; e uma adolescente, deficiente, devido a uma mielomeningocele. Tenho objetivado a construção de autonomia em relação a seus familiares (principalmente de suas mães), mas também a construção de laços sociais que permitam esse distanciamento saudável. Ambas as famílias interpretam a deficiência como um desafio; os sentimentos de ansiedade e esperança são propulsores, então, na busca de resoluções de problemas, motivação e crescimento. Dessa forma, afirmo que parte do desenvolvimento de ambos, de suas aprendizagens na escola e das relações sociais, se dá porque as famílias têm vencido diariamente tal desafio. Para mim, como estagiária, foi fundamental compreender o movimento de reestruturação que ambas as famílias tiveram que fazer e dimensionalizar o investimento afetivo que é feito a cada novo obstáculo transposto. Dessa forma, entendo que as deficiências podem originar limitações, o que não quer dizer que os deficientes devem ser pessoas limitadas e nem ficar limitados. Essas duas famílias demonstram que não estão acomodadas às situações de vida. Elas têm buscado todos os recursos possíveis a fim de vencer os limites impostos. Por isso, tais limites (dados socialmente e mesmo internamente pelos deficientes) estão sendo questionados na terapia. Não há porque considerar que a deficiência os impede de conquistar o que almejam em termos familiares, sociais e acadêmicos. Por isso, considero que cabe à Psicologia, mas não somente a ela, a revisão de postura do modelo repressor a que pais, familiares, educadores, equipes de saúde e sociedade estão aprisionados, pois só através da libertação do estigma e do fim da discriminação essas pessoas alcançarão o reconhecimento da identidade e a participação ativa na sociedade. Por isso, neste momento, cabe uma reflexão, já que cada vez mais essas pessoas têm conquistado seu lugar na sociedade e, ao mesmo tempo, adentrado as portas da Universidade. Pois, compreendo que o espaço da clínica psicológica no SIS é, muitas vezes, o único lugar onde o deficiente e sua família podem expressar livremente os sentimentos que os afligem, a fim de que estes possam ser entendidos e, então, superados. Quanto aos meus pacientes, percebo que eles têm conquistado autonomia, reconsiderado afirmações de vida e sonhado sonhos possíveis.
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