O tabaco (Nicotiana tabacum L.) é uma solanácea nativa das Américas, cultivada com fins comerciais no mundo todo. No Brasil é produzido, principalmente, na Região Sul, tornando-se uma das culturas mais importantes do Estado do Rio Grande do Sul, o qual apresenta 1800.000 ha de área plantada. A substituição da vegetação natural por culturas homogêneas implica na redução da diversidade biológica e na simplificação da estrutura do ambiente, bem como, em problemas fitossanitários relacionados ao surgimento de espécies-pragas. Os insetos causam perdas significativas na produção, no rendimento e na qualidade do tabaco, dentre os quais, Diabrotica speciosa Gemar, 1824 (vaquinha), uma praga polífaga de grande disseminação, é citada provocando injúrias decorrentes do consumo da área foliar pelos adultos. Objetivou-se com esta pesquisa determinar a flutuação populacional e a distribuição espacial de D. speciosa na cultura do tabaco, avaliando o impacto da vegetação adjacente. O presente estudo foi conduzido em uma lavoura de tabaco orgânico (Virgínia), no município de Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, de propriedade da empresa JTI/Kannenberg Ltda. As coletas foram realizadas semanalmente, durante a safra de 2009/2010, através de armadilhas Malaise. Foram determinadas três linhas de amostragem, com três pontos de coleta em cada linha (ponto fora, borda e dentro) e um ponto localizado no interior do cultivo (ponto meio). Os indivíduos coletados foram levados ao Laboratório de Entomologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) para triagem e identificação, e tombados na Coleção Entomológica da UNISC (CESC). Foram amostrados 3.217 indivíduos adultos de D. speciosa associados ao cultivo tabaco, coletados em todos os estádios fenológicos da planta, porém, observou-se uma maior abundância entre os meses de dezembro/2009 e janeiro/2010 (85,8% do total coletado), coincidindo com a maior disponibilidade de folhas de tabaco, baixa precipitação pluviométrica e o aumento da temperatura. Foram coletados 665 indivíduos (27%) na linha “1”de amostragem, 614 (25%) na linha “2” e 1.190 (48%) na linha “3”. A diferença observada na composição paisagística das áreas de bordadura nas linhas “1” e “2”, se comparadas com a linha “3”, bem como, os fatores bióticos (complexidade vegetal e presença de predadores) e abióticos (temperatura, luminosidade, umidade e intensidade do vento), das mesmas, influenciaram na abundância e na distribuição espacial da espécie no cultivo. Foram amostrados 265 indivíduos no ponto de coleta “fora”, 900 no ponto “borda”, 1.304 no ponto “dentro” e 748 no ponto “meio” (valor multiplicado por três totalizando 2.244), constatando-se a preferência dos adultos de D. speciosa por áreas localizadas no interior da lavoura. Ainda, a redução no número de espécimes coletados, acompanhando o sentido do meio para o fora do plantio, indica que a população de D. speciosa, possuiu a tendência de manter-se afastada da vegetação adjacente nas linhas de amostragem “1” e “2”, com condições apropriadas para abrigar inimigos naturais da espécie. Artrópodes benéficos em agroecossistemas deslocam-se para os cultivos a partir das margens, sendo o controle biológico mais intenso em fileiras de plantas próximas à vegetação natural do que no centro dos cultivos.