Este trabalho objetiva apresentar como a lógica cadastral do Programa Primeira Infância Melhor (PIM) pode produzir estratégias de governamento e controle. Para tanto, analisa-se o Manual de Preenchimento e o Cadastro de Famílias, tendo como ferramenta o conceito de governamento, proposto por Foucault. O cadastro de caracterização é dividido entre gestante, criança e família. Neste trabalho discutimos as caracterizações destinadas à criança, nas quais encontramos questionamentos voltados para os hábitos de higiene, comportamento, cuidados referentes à saúde (incluindo atenção especializada), relacionamentos, entre outros. Nesse sentido, percebemos a busca por uma delimitação, um rastreamento das famílias atendidas, ressaltando que a prioridade recai sobre as localizadas em áreas de maior vulnerabilidade social. Embora o objetivo seja o desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais e emocionais, observamos que o alvo do programa é a família, a partir das figuras da criança e da mulher, pois estas são privilegiadas dentro das políticas públicas de saúde. Aponta-se ainda o quanto a organização do programa, a partir de uma lógica territorial, é uma estratégia disciplinar eficiente, constituindo-se como uma distribuição capilar que se engendra nas dinâmicas familiares. Assim, tem-se a centralidade, em última instância, de uma infância tida como normal, numa perspectiva de salvamento e de necessidade de proteção por ser a garantia do futuro.