CONECTANDO SABERES: A RELAÇÃO ENTRE CUIDADORES E AS EQUIPES MULTIPROFISSIONAIS DE SAÚDE.

FRANCIELE DA SILVA MOITOSO, MARCUS VINICIUS CASTRO WITCZAK

Resumo


O presente trabalho aborda a questão do papel do cuidador, seja ele um familiar ou um profissional, e a responsabilização da equipe multiprofissional frente ao paciente. Tal responsabilização pressupõe um jogo de forças entre os cuidadores em si e os diferentes saberes que se interpõem nesse cuidar. O contexto em que se produziu esta reflexão é o Serviço de Reabilitação Física (SRFis) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), que é um projeto de extensão comunitária e atende pacientes em nível intermediário no processo de reabilitação. Ser cuidador, tanto familiar quanto profissional, ocupa um espaço na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) sob o código 5162, que define que o papel do cuidador é "cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida". Este tema justifica-se, pois os cuidados prestados à pessoa necessitada devem ir além do próprio corpo físico. Levando-se em consideração os sentimentos e emoções da pessoa que está sendo cuidada, em conjunto com diversas características que o cuidador precisa ter para manter seu profissionalismo, associando-se o carinho, a atenção, a precaução e a responsabilidade. Assim, o cuidador torna-se uma peça principal para zelar a saúde do necessitado. O contato do cuidador com equipes de saúde deve ser essencialmente preciso, pois cabe ressaltar que o cuidador, muitas vezes, é isento de conhecimentos específicos e disciplinares. Os profissionais de tais equipes (médicos, psicólogos, enfermeiros ou outras profissões) devem enfatizar tanto o cuidado físico como o mental, com uma linguagem clara e de fácil compreensão. De tal forma que os profissionais transmitam e decodifiquem seus saberes, em termos da relação cuidador e paciente, inserindo as questões emocionais e relacionais aderidas ao vínculo afetivo. O entendimento deste processo está fundamentado metodologicamente na perspectiva do construcionismo social, onde a noção de indivíduo é entendida como uma construção social, pretendendo escapar a uma perspectiva individualista (SPINK e FREZZA, 1999). Spink e Medrado (1999, p. 60) colocam que o pressuposto que fundamenta o desenvolvimento da Psicologia Social é o ato de dar sentido ao mundo, enquanto força motriz da vida em sociedade. O construcionismo social, assim, busca "identificar os processos pelos quais as pessoas descrevem, explicam e/ou compreendem o mundo em que vivem, incluindo elas próprias" (p. 60). Centra-se nas práticas discursivas que são os meios pelos quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam nas relações que estabelecem no cotidiano. A inserção do profissional da Psicologia no SRFis proporciona um espaço de escuta (individual e grupal) onde as ansiedades, angústias, preocupações e vivências de sofrimento podem ser trabalhadas em um processo reflexivo, que valorize as práticas individuais dos cuidadores e, ao mesmo tempo, proporcione o suporte necessário para a continuidade das mesmas. E, um dos principais dilemas que se coloca na relação cuidador-cuidado é lidar com a morte do paciente, grande fonte de desgastes mentais (SELIGMANN-SILVA, 2011), contudo, permitem aos trabalhadores terem suas tarefas valorizadas socialmente, reforçando a sua própria identidade no trabalho de cuidar.


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