SOBRE INTERAÇÕES ENTRE ESTUDANTES SURDOS E OUVINTES EM CLASSES INCLUSIVAS: O QUE DIZEM OS PROFESSORES?

Patricia da Rosa, Evelin Helena Torrel, Luiza Zillmer Pasqualini, Cristiane Davina Redin Freitas

Resumo


Introdução: O presente trabalho é decorrente de uma pesquisa que buscou compreender mais profundamente, de acordo com a percepção de professores, as interações que ocorrem em sala de aula entre estudantes surdos e ouvintes, pois se entende o papel do professor como agente implicado com o desenvolvimento social de seus discentes. Tendo como espaço a escola regular inclusiva, é sabido que tanto os estudantes quanto os professores são os protagonistas no cenário educacional e vivenciam a realidade dessas salas de aula. Este estudo também se ancora em discursos históricos e momentos atuais vividos em nosso país, no que diz respeito à dualidade educação/inclusão de estudantes surdos. Objetivos: A pesquisa foi realizada em uma escola regular de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, e teve como propósito compreender como ocorrem as interações entre estudantes surdos e ouvintes em classes inclusivas do ensino médio, de acordo com a percepção dos professores e intérpretes atuantes nesse espaço. Para tanto, buscou-se verificar, junto aos docentes, se ocorrem formas de comunicação entre os estudantes surdos e ouvintes, se há interesse e curiosidade dos estudantes ouvintes sobre a cultura surda, se emergem atitudes de cooperação entre os educandos, bem como se há colaboração dos estudantes ouvintes para a inclusão dos colegas surdos. Metodologia: Este estudo configura-se como de caráter qualitativo e foi desenvolvido a partir de agosto de 2015. Os participantes foram quatro professoras e duas intérpretes que atuam em classes inclusivas de estudantes surdos e ouvintes do ensino médio. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa entrevistas individuais semiestruturadas, que foram gravadas em áudio para posterior transcrição e análise de dados. Resultados: Os dados obtidos foram organizados em quatro categorias: interação entre surdos e ouvintes e inclusão dos colegas surdos em sala de aula; isolamento; aprendizagem dos estudantes surdos; relação entre professor e intérprete. Os resultados indicam que as relações interpessoais entre os estudantes surdos e ouvintes não são efetivas na instituição de ensino em questão. Para além desse fator, emergiram questões referentes a uma forma de inclusão vista por muitos participantes deste estudo como algo que não se concretiza. Isso reflete no isolamento dos estudantes surdos, que pouco se comunicam com os ouvintes. Esse fato fragiliza as relações entre os próprios estudantes e o professor, pois, como mostrou a pesquisa, a comunicação entre surdos e ouvintes é um grande obstáculo. Conclusão: O estudo realizado apontou dificuldades por parte da escola e dos profissionais para saber lidar com essa demanda educacional, em termos de organização, de capacitação e de pesquisa. Também, nota-se um certo despreparo tanto dos professores e profissionais que atuam diretamente com os surdos quanto da sociedade em geral. As dificuldades em relação ao ensino dos estudantes surdos podem vir a comprometer suas vivências sociais. Apesar de existirem Políticas Públicas que garantem o direito à educação para as pessoas com algum tipo de deficiência, sabe-se que muito dificilmente estas atingirão todas as escolas. E essas, por sua vez, encontram-se em situação precária, evidenciada pela falta de investimentos. Dessa forma, torna-se de extrema importância estudos que visem a minuciar ainda mais esse tema tão atual que é a inclusão dos estudantes surdos.

Apontamentos

  • Não há apontamentos.