O objetivo central do trabalho é a análise da personagem das obras de Thomas Harris, Hannibal Lecter, caracterizando-o como um possível ogro contemporâneo. Para isso, buscamos a origem desse monstro, sendo assim, possível a relação entre canibal-ogro. As práticas canibais ou antropofágicas, são tão antigas quanto a humanidade. Foi o historiador e cronista grego Heródoto, do século V a.C, o primeiro a abraçar a complicada tarefa de analisar e classificar o fenômeno do canibalismo. Foi ele que cunhou a palavra “antropofagia” (fusão de antropos, que significa “homem”, e phagein, comer), até hoje a mais apropriada para designar o ato de comer carne humana. Um tipo bem documentado é o canibalismo famélico, que aparece em períodos de extrema escassez de alimentos, como aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial. O canibalismo foi praticado por povos aborígines pelo mundo inteiro, da África à Nova Zelândia (SCHECHTER, p. 229, 2014). A origem do ogro pode ser explicada por diversas culturas, “Orcus”, do latim, significa Deus da morte ou do inferno. Traduzida do italiano, “Orco”, quer dizer papão ou do espanhol “Huerco”, inferno ou diabo. Apesar das diferentes traduções e países, o que eles têm em comum é a sua característica: é uma criatura popular, ora aparecendo como gigante grotesco que usa grandes botas para melhor se locomover, ora como bruxa malvada ocidental.Se a antropofagia aproxima o canibal do ogro, por outro lado percebemos que o canibal é parte da história sociocultural humana e o ogro se alia ao mítico e à imaginação e se constrói na perspectiva do campo simbólico.Em “João e Maria” (GRIMM, 1852), a expressão “bruxa malvada” aparece pela primeira vez, pois se torna uma elaboração física, uma vez que as bruxas não são comuns nas histórias de Grimm. Aqui, ela assume uma importância representativa; a narrativa apresenta dilemas como a fome, o abandono e o medo de ser devorado. Os irmãos precisavam derrotar o monstro em casa e na floresta. Segundo Maria Tatar, a bruxa é frequentemente representada como uma figura de traços judeus, um presságio dos horrores do Terceiro Reich (TATAR, 2004, p. 59). Procuraremos características ogrescasnas obras Dragão vermelho, O silêncio dos inocentes, Hannibal e Hannibal, a origem do mal, que possam explicar a personalidade e as preferências de Hannibal Lecter, como ele se torna esse canibal e se de fato é umogro. Freud uma vez citou: “A maldade é a vingança do homem contra a sociedade pelas restrições que ela impõe: [...] É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura” (CASOY, 2014). Hannibal nasceu na Lituânia, período da Segunda Guerra Mundial, época de tensão entre as famílias que eram contra o exército SS de Hitler, e ainda quando criança sofreu traumas inimagináveis a um garoto de 12 anos. Estudaremos sobre os vampiros, quais características canibais eles apresentam e se as apresentam. Nosso propósito é estudar como o canibalismo e o ogro se aproximam de Lecter e de como foi e de como tem sido a repercussão das obras de Harris, quanto suas adaptações para o cinema. Esta monografia se insere na linha de pesquisa “Processos narrativos, comunicacionais e poéticos”, do Departamento de Letras da UNISC, cujo objetivo é construir sentido através da interpretação textual, buscando conhecimento sobre os elementos e processos narrativos e suas funções.