SAÚDE NA RUA (?): MODOS DE (RE)PENSAR A SAÚDE MENTAL DE PESSOAS QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE RUA ATRAVÉS DA PESQUISA-AÇÃO

Maria Luiza Adoryan Machado, Carolina Assmann, Karla Nunes Gomes

Resumo


 

Sabendo que a realidade de rua é permeada de limitações e impasses à saúde física/mental, partimos do seguinte questionamento como eixo norteador do estudo: é possível falar em Saúde Mental da população em situação de rua? O objetivo do estudo é identificar os aspectos que permeiam a questão da saúde mental da população de rua e das especificidades que emergem deste contexto. Para tanto, foi utilizado o método de pesquisa-ação enquanto importante ferramenta na construção coletiva de pistas que promovem novos olhares sobre esta realidade, pois a pesquisa-ação é caracterizada como um método que não trata simplesmente de levantar dados, mas de ações e práticas de convivência em que há o diálogo entre o grupo de estudantes e a população em estudo. Assim, realizou-se uma entrevista com profissionais do Consultório na Rua de Santa Cruz do Sul – RS, que, mesmo estando em funcionamento/atuante desde 2015, ainda se constitui como um “projeto-piloto”. Também foi realizada uma intervenção em um serviço público – que dispõe de cama, banho e refeições para pessoas desabrigadas – em que as(os) estudantes de Psicologia da UNISC promoveram um jantar coletivo com as(os) frequentadoras(es) e uma oficina de desenhos e escritas. Essa oficina foi proposta como uma possível ferramenta para identificar aspectos que caracterizam os modos de estar/viver em situação de rua de pessoas que têm muita história para contar, mas poucos espaços de trocas em que são protagonizadas e potencializadas. Foi identificado que, através da oficina, criou-se um espaço de escuta e fala em que os sujeitos se sentiram ouvidos e acolhidos, expressando no papel, na forma de narrativas, suas experiências e sonhos para o futuro. Nesse sentido, a partir desse momento de escuta, surgiram debates e problematizações sobre a atuação de serviços de saúde e assistência social, da repressão existente na realidade de quem vive em situação de rua, da exclusão social disparada através dos preconceitos da sociedade e das(os) próprias(os) profissionais que deveriam acolher e apoiar, além das demais situações que emergem desta realidade que configuram as demandas existentes na cidade em questão. Assim, notou-se que a oficina serviu não somente como ferramenta de análise dos modos de subjetivação e da questão de saúde desta população, mas também para aproximar as pessoas que estavam partilhando deste momento coletivo, no caso as(os) frequentadoras(es) do serviço público em questão e as(os) próprias(os) estudantes ali presentes, e da produção de saúde mental a partir dessas (con)vivências. Por isso, através deste ensaio, foi possível identificar as potencialidades do método de pesquisa-ação e do uso de ferramentas que protagonizam o sujeito e as suas demandas. Assim como, a criação de espaços de fala de duas vias, ou seja, em que os serviços atuantes apresentem as suas demandas, anseios e questões, e as(os) usuárias(os) também o façam e que se sintam singulares sobre as suas especificidades e histórias de vida. Conclui-se que apesar da existência de amplo referencial teórico-bibliográfico acerca da realidade da população em situação de rua em nível nacional, há uma lacuna sobre tal contexto no que se refere à região do Vale do Rio Pardo, principalmente sobre o município de Santa Cruz do Sul, ao passo que o presente trabalho traz importantes pistas e contribuições de problematização da saúde mental da população em situação de rua do cenário santa-cruzense.

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