DIAGNÓSTICO SUGESTIVO DE LESÃO FACTÍCIA EM CAVIDADE ORAL – ESTUDO DE CASO

Fernanda Pellicioli, Eduardo Costa Amado, Leo Kraether Neto

Resumo


As Lesões factícias caracterizam-se por ações de auto injúria que resultam em danos físicos. Sua gênese se associa a desordens psiquiátricas ou emocionais, em que os pacientes procuram atenção especializada ou familiar por meio de produção de lesões traumáticas visíveis. É mais frequente em mulheres, sendo lesões cutâneas mais comuns que as orais, já que são mais expostas e causam mais impacto, considerando o desvio psicossomático envolvido. As lesões orais são decorrentes do hábito de mordiscar ou fustigar a mucosa bucal. Ocorrem normalmente em língua, bochecha e lábio, se mostrando de caráter recorrente e crônico, devido a injúria repetida. Este relato objetiva descrever um caso ocorrido na extensão da Universidade. Paciente do sexo feminino, 51 anos, moradora de uma cidade do interior, procurou atendimento no Projeto de Diagnóstico Bucal relatando ter consultado com mais de 20 profissionais, entre médicos e cirurgiões dentistas com a queixa de feridas nas bordas laterais da língua e lábio inferior, muito doloridas e que aumentam de tamanho. Já realizou biopsia em outro local e não foi constatado presença de células tumorais. Nenhum diagnóstico havia sido concluído. Numa primeira consulta realizou-se o exame clínico, anamnese, avaliou-se exames antigos, pediu-se novos exames de sangue e Veneral Disease Research Laboratory - VDRL, e fez-se coleta de material da borda lateral de língua esquerda e lábio inferior que foi enviado para exame histopatológico. Numa segunda consulta, 14 dias depois, removeu-se a sutura. O exame para sífilis e aids deram negativo. O histopatológico foi inconclusivo, não havia presença de células alteradas. Em uma terceira consulta, 30 dias após a primeira, a paciente conversou sobre a possibilidade de se aposentar por invalidez, pois estava sofrendo muito com aquela situação, o que poderia culminar em distúrbio emocional, indicando assim, lesão factícia. Neste exame clínico percebeu-se que as áreas ulceradas estavam clinicamente satisfatória, contudo a paciente ainda relatava dor. As mesmas coincidiam com a altura oclusal dos dentes e nas regiões edêntulas (espaços com dentes faltantes), muito sugestivo de lesão por mordida. Perante todas as evidências encontradas, suspeita-se de lesão factícia. Devido a dificuldade de conclusão do diagnóstico, será realizado um novo exame clínico em 30 dias. Tanto o diagnóstico quando o tratamento são difíceis, pois a origem da doença é psicológica e não física, indica-se tratamento psiquiátrico. A ajuda de um psicólogo e psiquiatra é indispensável para a boa resolução desses casos.


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