COMUNIDADES SUSTENTADAS PELO TRÁFICO: O PAPEL DA MÍDIA E DO ESTADO NA PRODUÇÃO DE REFUGO HUMANO

Mariane Rennhack Stein, Letícia Holderbaun, Jonas Guilherme Azevedo Teixeira, Marcus Vinicius Castro Witczak

Resumo


O presente trabalho foi desenvolvido na disciplina de Psicologia do Trabalho I, do Curso de Psicologia, e visa contribuir com as discussões acerca das problemáticas sociais relativas ao tráfico de drogas, a partir dos conceitos de lumpemproletariado, de Karl Marx e de comunidade e refugo humano, ambos, de Zygmunt Bauman. Problematizar a forma como a mídia e o Estado tratam os indivíduos, membros das comunidades marcadas pelo tráfico de drogas. Este é um estudo teórico-conceitual em que se realizou pesquisa bibliográfica acerca da temática e determinou-se as ferramentas conceituais de análise, articulando-as com o artigo “Tráfico de drogas e fragmentação do tecido sociopolítico-espacial no Rio de Janeiro”. A discussão se centrará em três pontos: (1) o lumpemproletariado como ferramenta de perpetuação do capitalismo; (2) a fragmentação do tecido sociopolítico-espacial; e (3) a produção de refugo humano relacionada ao tráfico de drogas. O lumpemproletariado se constitui, segundo Marx e Engels, como uma camada residual da população, diferenciado do proletariado potencialmente revolucionário. A precarização exacerbada de suas vidas os levaria antes à servidão dos interesses da reação do que a um movimento de mudança social. O que vemos em relação ao tráfico de drogas é um sistema que contribui para a perpetuação da condição de vida dos seus membros e do próprio capitalismo, por estimular uma série de mecanismos de segurança - desde armamento policial e sistemas de vigilância privada até a imprensa que usa a violência para fomentar no espectador o desejo de um estado mais autoritário - retroalimentando o ciclo de violência da guerra às drogas e agravando a fragmentação do tecido sociopolítico-espacial. Tal fragmentação ocorre desde a década de 70, quando a elite começou o processo de autossegregação, com a criação de condomínios fechados, fazendo com que somente os centros das cidades dependessem da segurança pública e, portanto, tornando essas regiões mais vulneráveis à violência. Nas favelas, as leis informais impostas pelo tráfico zelam pela segurança da própria comunidade, fortalecendo as fronteiras com as demais áreas da cidade. Essa segregação exclui o morador da favela - dependente do tráfico - do convívio urbano em vários níveis: pelo encarceramento na própria comunidade, pela impossibilidade de transitar nos locais de circulação da elite, pela dificuldade de consumo possibilitado à classe média e pela forte caricaturização da mídia que apresenta os moradores das favelas como refugo humano desprovido de qualquer autonomia. Ser colocado como refugo humano de uma determinada sociedade é ser visto como incapaz de participar da dinâmica social e de suas produções. O refugo humano é uma produção inerente à criação da ordem social, pois ambas são interdependentes, de forma que a afirmação da segurança de uma cidade só é possível devido à produção da violência que assegura sua existência. A comunidade que se sustenta com o tráfico de drogas não constitui, portanto, uma força revolucionária contra o próprio sistema que determina a sua exclusão. Isso significa que é duplamente rejeitada: de um lado, pelo sistema capitalista formal, pela sociedade de consumo e pela força de trabalho, ou seja, porque “sobram”; e de outro lado, pelo Estado, pela segurança pública, pela negação de direitos básicos.

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