O USO DE DROGAS ILÍCITAS E SUA REPERCUSSÃO NO AUTOCUIDADO E NA SAÚDE BUCAL DE DEPENDENTES QUÍMICOS: RELATO DE CASO CLÍNICO
Resumo
Introdução: Os diferentes tipos de drogas ilícitas, ao serem administradas e entrarem em contato com o organismo, atuam deprimindo, estimulando ou perturbando o sistema nervoso central acarretando a sensação de satisfação momentânea. Na cavidade bucal, a dependência química pode repercutir no aparecimento de alterações frequentemente relacionadas a essas substâncias. Objetivos: Avaliar por meio de relato de caso clínico a relação entre a dependência química ilícita e a negligência do autocuidado referente a saúde bucal, bem como a sua associação ao desenvolvimento de alterações na cavidade oral. Metodologia: O caso clínico foi selecionado a partir da relevância do assunto e complexidade das circunstâncias apresentadas pelo paciente, bem como sua repercussão psicossocial na qualidade de vida do mesmo. O embasamento teórico do relato partiu de uma revisão de literatura baseada em artigos e livros publicados nas línguas portuguesa e inglesa. Também foram utilizadas informações coletadas do prontuário, relatos do paciente e registros fotográficos clínicos e de exames radiográficos. Resultados: Na cavidade bucal, as manifestações como cáries dentárias, doença periodontal, xerostomia, alterações da composição química da saliva diminuindo sua capacidade tampão, halitoses e em alguns casos até mesmo bruxismo, queilite angular e estomatites são reflexo direto das drogas sobre o funcionamento do sistema estomatognático e da omissão aos cuidados com a saúde bucal. Este caso consiste em um paciente do sexo masculino, com 28 anos de idade, ex usuário de heroína, cocaína e crack. Na primeira consulta, realizada na triagem do Curso de Odontologia da UNISC, o paciente relatou sua intenção de extrair todos os elementos dentários devido ao comprometimento pela cárie dentária, reflexo da dependência química de quinze anos e da falta de higiene e cuidados bucais neste período. Após avaliação dos exames realizados na primeira consulta, foi indicada a manutenção dos dentes possíveis de serem recuperados através dos tratamentos: cirúrgico com exodontias (07), endodôntico (05), dentística restauradora de diferentes classes (09) e periodontal com raspagem em todos os sextantes. Quando finalizada toda a adequação, o paciente recebeu a indicação para reabilitação da função e estética pela confecção de próteses parciais removíveis. Conforme as exigências deste caso relatado e reavaliação de cada dente, foram efetuadas até o presente momento nove exodontias, quatro endodontias e restaurações de quatro dentes tratados endodonticamente. Outras alterações bucais que pudessem estar de alguma forma vinculadas ao uso de drogas não puderam ser observadas neste caso. Durante as consultas, informações sobre a adequada higiene e cuidados bucais foram repassadas ao paciente e a cada consulta a motivação é reforçada, para que o objetivo de concluir o seu tratamento odontológico seja atingido. Percebe-se que o paciente vem aderindo ao tratamento pela melhora na higienização e pelo comprometimento em comparecer nas consultas, inclusive em período de pandemia da doença Covid19. Conclusão: A saúde bucal é um alvo direto dos danos causados pelo uso de drogas no organismo. Pacientes usuários ou ex usuários de drogas requerem uma maior atenção durante o atendimento odontológico por apresentarem-se mais vulneráveis a doenças bucais e sistêmicas, visto o risco elevado para negligência do autocuidado bucal e o estabelecimento de doenças que repercutem na sua saúde geral e na qualidade de vida.
Palavras-chave: Saúde bucal; Drogas ilícitas; Autocuidado.
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