TRABALHO DOCENTE E SABERES UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO AO SOFRIMENTO: UM ESTUDO COM PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Yohanna Breunig, Moacir Fernando Viegas

Resumo


O trabalho docente se constitui como uma profissão que exige muita dedicação e capacidade de lidar com os imprevistos do cotidiano de trabalho. Para que os professores possam realizar suas atividades profissionais eles precisam utilizar os saberes adquiridos por meio de suas experiências acadêmicas e profissionais anteriores. Estes saberes também serão importantes para que os docentes consigam criar estratégias para enfrentar o sofrimento inerente ao trabalho, evitando um adoecimento.

Dejours (1992) afirma que todo trabalho é permeado por prazer e sofrimento, mas o problema aparece quando não há um equilíbrio entre ambos, sendo o sofrimento maior que o prazer. É nesse sentido que os professores costumam elaborar diferentes tipos de estratégias para darem conta do seu trabalho e preservarem sua saúde mental. Igualmente, notamos que muitos conseguem adaptar o seu trabalho àquilo que não estava prescrito ao lançarem mão de saberes anteriormente adquiridos, formando novos saberes (SCHWARTZ, 2003).

Essas estratégias podem ser positivas aos trabalhadores, na medida em que dão vasão à criatividade e a novas possibilidades de ação, mas também podem ser prejudiciais ao sujeito e ao meio de trabalho, quando utilizam apenas estratégias de adaptação ao trabalho, sem buscar a mudança da organização do mesmo. Sendo assim, adotaremos o uso da expressão estratégias de enfrentamento para nos referirmos a tais estratégias desenvolvidas pelos trabalhadores para não adoecerem, em que consideramos as estratégias defensivas (DEJOURS, 1992), as lutas sociais (BERNARDO, 2009) e a mobilização coletiva (DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 1994; MENDES; COSTA; BARROS, 2003). Todas elas servem como meio de preservar a saúde do trabalhador, mas cada uma contém suas particularidades, podendo ser conscientes e/ou inconscientes, individuais e/ou coletivas.

Vivenciamos um momento de intensas modificações no sistema educacional, em que percebemos que o professor acaba tendo cada vez menos autonomia sobre o seu fazer profissional, o que, aliado a jornadas de trabalho exaustivas, sem o devido reconhecimento social e salarial, gera desmotivação e construção de diferentes formas de estratégias para não adoecer.Ademais, o trabalho tem se tornado bastante individualizado atualmente, em que o tempo é curto, a carga horária é grande e cada um precisa dar conta de suas atribuições. Deste modo, os sujeitos sentem-se sozinhos nessa luta, restando-lhes elaborarem estratégias para não adoecerem. E para que consigam criar estratégias de enfrentamento ao sofrimento os docentes precisam recorrer aos saberes construídos durante a sua experiência, o que vai permitir-lhes encontrar a melhor forma para lidar com determinadas situações.

Desse modo, a presente pesquisa de mestrado, que se encontra em fase inicial, tem o objetivo de descrever, analisar e explicar as características do processo de formação de saberes utilizados pelos trabalhadores docentes na construção de estratégias de enfrentamento ao sofrimento decorrente da organização do trabalho. Para tanto, elencamos os seguintes objetivos específicos: descrever as transformações do trabalho no campo da educação e como isso se reflete na organização do trabalho docente atualmente; compreender como tais mudanças têm repercutido na saúde mental dos professores; analisar as possibilidades e limites que os saberes presentes na construção de estratégias de enfrentamento oferecem para a elaboração de formas de mobilização coletiva.

Esta será uma pesquisa de campo qualitativa, cujos profissionais serão convidados a participarem de um grupo focal e de entrevistas individuais semiestruturadas, através de metodologia não-probabilística, totalizando aproximadamente seis docentes. A pesquisa fundamenta-se teoricamente nos pressupostos do materialismo histórico-dialético (MARX; ENGELS, 1994), na psicodinâmica do trabalho (DEJOURS, 1992) e utiliza elementos da ergologia (SCHWARTZ, 2003; 2010). Para análise e interpretação dos dados utilizaremos a análise de conteúdo (BARDIN, 1977), contemplando as fases de pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Dessa forma, poderemos perceber de que modo os docentes vão construindo estratégias de enfrentamento ao sofrimento e como ocorre o processo de formação dos saberes de que se utilizam, identificando as semelhanças e diferenças entre o que será encontrado na prática e as publicações existentes na área.

 

Palavras-chave: Trabalho Docente; Saberes; Estratégias de Enfrentamento; Prazer e Sofrimento; Organização do Trabalho.


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ISSN 2965-0615