Mostra de Extensão, Ciência e Tecnologia da Unisc

Sabe-se que no Brasil foram poucas as políticas públicas voltadas ao atendimento das demandas sociais no campo habitacional. Com isso, a garantia de uma moradia adequada tornou-se um desafio nacional. Estudiosas/os consideram que um dos resultados de tal problemática pode ser as cenas que cotidianamente nos deparamos de cidades com habitações precárias, com coabitações familiares, excesso de moradoras/es e famílias que lidam com excessivo ônus de aluguel. Partindo do interesse inicial de analisar os efeitos dos deslocamentos de populações de baixa renda para conjuntos habitacionais financiados pelo PMCMV em Santa Cruz do Sul/RS, esta pesquisa foi desenvolvida no Residencial Viver Bem, localizado na zona sul desse município, em um bairro considerado com alto índice de vulnerabilidade social. Importante esclarecer que o efeito das políticas públicas não são os mesmos em todos os territórios e em relação aos distintos grupos sociais que possuem diferentes trajetórias de vida, de inserção profissional, de vínculos societários  etc. Por isso, torna-se importante conhecer mais de perto como a política habitacional produz experiências diversas para as famílias que passaram a viver em tais conjuntos habitacionais. Dessa forma, imbricada aos efeitos de deslocamento da população residente, os modos de como se dá o acesso dos moradores desse residencial ao mercado de trabalho surge como questão norteadora. O objetivo geral é apresentar resultados parciais obtidos através das vivências em iniciação científica com a pesquisa ?O Programa Minha Casa Minha Vida em Santa Cruz do Sul/RS e o acesso ao mercado de trabalho?. A metodologia adotada foi a realização de entrevistas semiestruturadas com sete famílias residentes e o uso do diário de campo enquanto ferramenta de registro e produtor de reflexões. As narrativas serviram como fonte de dados para traçar alguns aspectos que permeiam a questão do trabalho na vida das famílias entrevistadas. Cada história de vida identificada apresenta especificidades e arranjos singulares, embora também se identifique alguns pontos de convergência relacionados à mudança das famílias para esse residencial. Tais convergências seriam, por exemplo, em relação às dificuldades de locomoção entre o residencial até o local de trabalho ou pontos mais centralizados da cidade. Além disso, foram relatadas dificuldades de acesso a vários serviços básicos (posto de saúde, escola, creche, mercado, farmácia, entre outros), a falta de linhas/horários de ônibus (além do alto custo com a passagem de ônibus urbano), a precariedade na construção das residências e das áreas de uso comum e vários outros aspectos relacionados ao fato do residencial estar localizado em um bairro afastado (cerca de 8km) da área central do município. Em relação às famílias entrevistadas, três delas possuem ao menos um membro com vínculo empregatício (carteira assinada), duas famílias possuem um membro aposentada/o, uma família possui membros que trabalham com reciclagem de materiais coletados pela cidade (sem carteira assinada) e uma família não possui membros com vínculo empregatício. Foi possível observar que as/os participantes neste estudo possuem vivências diversas em relação ao mercado de trabalho, mas que, a partir da mudança territorial ocorrida em 2015, algumas dificuldades atravessaram suas histórias e os desafiaram a buscar novas oportunidades de trabalho e de reorganização social e interpessoal.