POÉTICA EM CAMINHADA: PRESENÇA DO CORPO EM VOZ NAS LETRAS DAS COMPOSIÇÕES DE BOB DYLAN

Giulio Daniel Mello, Ângela Cogo Fronckowiak

Resumo


Essa pesquisa investigou, primeiramente, nas letras das composições de Bob Dylan, o registro de um corpo em voz que se movimenta, impulsionado pela bagagem da biografia do compositor. Bob Dylan é um artista errante que, nos itinerários de sua caminhada, escreve canções que, em nossa concepção, até os dias de hoje, transpassam seu trajeto musical com o peso da bagagem carregada da herança trovadoresca. Além disso, Bob Dylan, no ano de 2016, foi laureado com Prêmio Nobel de Literatura por ter criado novos modos de expressão poética no quadro da tradição da música americana, fator que demonstra de forma inegável que Dylan se configura também enquanto criador de uma literatura de extraordinário valor. Nesse sentido, percebendo os signos da estrada em suas composições e reconhecendo a sua importância literária, a nossa primeira vontade se manifestou em buscar perceber nas letras de Dylan, registradas no papel, o corpo em voz que emana de seus versos escritos, lendo a composição como um poema. Esse intento foi realizado, no ano de 2019, na pesquisa que fundamentou o trabalho monográfico de conclusão do Curso de Letras. Contudo, um segundo desejo já aparecia potente ao final daquele estudo e, apenas anunciado, não foi investigado na profundidade merecida.  Demonstramos, naquele momento, a potência de analisar e propor uma interpretação possível para os caminhos que essas letras configuram para o leitor ouvinte. Em nossa concepção, as suas composições repercutem, seja de maneira direta ou indireta, expectativas de um devaneio da caminhada. E, se acreditamos nessa possibilidade ativada pelas letras impressas de Dylan, é porque o próprio artista foi estimulado por outras leituras. Após ler On The Road, de Jack Kerouac, e conhecer as letras das composições de Woody Guthrie, o lendário cantor do folk americano, Dylan caminhou. Ou seja, ele foi impulsionado, através da imaginação, a se mover com o corpo em voz inscrito nas suas produções, como referimos na sequência daquele estudo. Para tanto, iniciamos tentando compreender o conceito do corpo em voz e se haveria chance de emergir de uma letra impressa no papel, lida como um poema, a repercussão lírica do cancioneiro. Atualmente, na continuidade do estudo advindo da participação, com bolsa de pesquisa voluntária num grupo de pesquisa, dedicamo-nos a qualificar nossas intuições, a partir de uma perspectiva fenomenológica, questionando se um corpo em voz, dotado de experiências de estrada, pode projetar caminhos na imaginação do leitor-ouvinte. Para tanto, além das cinco letras de canções da obra de Dylan, gravadas entre 1962 e 1965, selecionadas e investigadas na primeira parte do trabalho, aprofundamos a seleção de mais cinco, extraídas do último álbum do autor, lançado em 2020, almejando alcançar evidências temáticas e mecanismos de linguagem utilizados pelo compositor, como vocabulário semântico de topoi de viagem, analogias e metáforas, que possibilitem comprovar um devaneio da caminhada no receptor.


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ISSN 2764-2135