Mostra de Extensão, Ciência e Tecnologia da Unisc

O processo de modernização da agricultura brasileira trouxe consigo a necessidade de reação e de adaptação dos agricultores familiares perante às adversidades resultantes desse processo, para que assim mantivessem sua permanência e manutenção no campo. Os agricultores familiares resistiram e vêm resistindo a um cenário extremamente adverso desde o começo de sua história. Neste cenário, os agricultores não são tidos como prioridade em políticas públicas relacionadas à atividade agrícola e que, claramente, beneficiam os grandes proprietários rurais que possuem um alto poder aquisitivo. Devido a sua resistência, não se pode considerar o agricultor, no decorrer de toda a sua história, como um sujeito passivo a sua realidade, pois ele é plenamente capaz de lutar por seu espaço, elaborar estratégias e adaptar-se do seu jeito a uma agricultura cada vez mais tecnológica, sem deixar de ser agricultor.  Entender como eles resistem torna-se fundamental e isto é discutido neste artigo, desde a geração de novos conhecimentos, técnicas, tecnologias, produtos, práticas e processos que aqui são reconhecidos como soluções tecnológicas que ao serem desenvolvidas e inseridas no processo produtivo, modificam a maneira na qual os agricultores familiares se relacionam com a natureza, ou seja, modificando sua forma de trabalhar e de viver. A pesquisa foi realizada através de uma parceria entre a UFRGS do campus do Litoral Norte e a UNISC, na qual foi selecionada como área de atuação da pesquisa o COREDE do Vale do Rio Pardo-RS, sendo este resumo referente ao projeto intitulado ?Análise do papel dos agricultores familiares na produção de soluções tecnológicas para a agricultura familiar? financiado pelo Edital Universal do CNPq de 2016. Para a realização da pesquisa, foi construída uma ampla rede de colaboradores, sendo essas as seguintes instituições: a Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul, a Associação dos Fumicultores do Brasil, o Arranjo Produtivo Local e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Essas instituições parceiras ficaram responsáveis principalmente devido aos seus conhecimentos sobre a realidade da agricultura familiar regional e a sua maior proximidade com os atores locais pesquisados, por aplicar o formulário para possibilitar a localização das soluções, que ocorreu nos períodos entre 2016 e 2017. Após a sistematização dos dados coletados, foram encontradas 58 técnicas, tecnologias, processos e produtos que foram desenvolvidos pelos agricultores familiares do Vale do Rio Pardo. Após, foram selecionados 18 casos que receberam uma visita para a aplicação das entrevistas semiestruturadas. Dentre as soluções encontradas, destacam-se: a enxada vazada, limpador de grãos, a régua que marca a distância acoplada à plantadeira de fumo adaptada e o disco adaptado com rodas e regulagem de profundidade. Para além da geração de novas técnicas, tecnologias, processos ou produtos, soluções tecnológicas evidenciam a resiliência existente na agricultura familiar como categoria que, apesar de estarem sujeitos a um mercado cada vez mais competitivo e excludente, conseguem adaptar-se e elaborar estratégias que garantam a sua sobrevivência, estabelecendo relações com os atores de sua localidade, reutilizando materiais e aproximando o seu vínculo com a natureza, tornando as soluções tecnológicas como algo característico e fundamental ao ser agricultor.