NARRATIVAS DA PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E COVID 19

Milena Luft, Fabiana Piccinin, Fabiana Piccinin

Resumo


Esta pesquisa discute a relação existente entre a anatomia narrativa das Fake News com o fenômeno próprio do contemporâneo e que se convencionou chamar de pós-verdade. O tempo da pós-verdade, decorrente, entre outros fatores, da fragilização da razão e do fim das metanarrativas que fundamentaram a racionalidade moderna, vai promovendo as condições para desautorização do discurso científico e, consequentemente, a emergência de discursos sem lastro referencial que os possa sustentar, materializado, por exemplo, nas informações falsas, imprecisas e, ou, mal apuradas. Nesse sentido, a pesquisa objetiva identificar como as Fake News são narradas, evidenciando a influência de emoções e crenças pessoais na opinião pública, a partir da recorrência e viralização das Fake News, que ganham potência especial com a popularização e acesso às redes sociais. Por meio das redes, as informações falsas podem ser facilmente publicadas e compartilhadas, sem demandar a responsabilidade de seus usuários e nem a precisão da informação. A partir daí, analisa-se essa dinâmica, propondo um recorte específico nesta primeira investigação das Fake News postas em circulação a respeito do vírus COVID 19, buscando atentar para suas anatomias em termos de temática, formato e linguagem. Quanto ao recorte empírico, chegou-se, assim, a 73 informações falsas a respeito da pandemia no Brasil, publicadas no Facebook e identificadas pela agência de checagem Lupa, entre os dias 16/03 a 16/04 de 2020, o primeiro mês da pandemia. Quanto ao tema, em razão dos padrões de repetição apresentados, as Fake News foram agrupadas em seis categorias: 1) "Brasil e mundo, celebridades, políticos", 2) ?Comportamento" , 3) "Indústria, comércio e serviços", 4) "Hospitais" 5) Tratamentos" e 6) Violência". São subtemas associados ao grande tema da COVID 19, que encerram algum tipo de polêmica ou questão duvidosa. Quanto ao formato, observa-se a composição vídeo/texto ou foto/ texto como constituinte do formato mais recorrente, apontando para o componente visual como dimensão ?de verdade? que busca fortalecer o texto e vice-versa. Quanto à linguagem, a intenção é de produzir impacto por meio da espetacularização do dizer, potencializando a imprecisão e resultando num sentido, por vezes, caricato. Desse modo, percebe-se que as três dimensões analisadas concorrem para um certo tipo de narrativa que bem se acomoda no contexto da pós-verdade, porque tanto tema, quanto formato e linguagem reafirma a exploração de emoções, passionalidades. Dão subsídios para a construção de opinião a partir de falsas informações sobre o vírus e a pandemia de maneira que estas substituíam, com facilidade, as informações precisas, bem apuradas e baseadas nas descobertas científicas, e vão contribuindo para o perigoso cenário da infodemia sobre o qual se vem travando preocupações importantes.

 


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ISSN 2764-2135