REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADE NA MÍDIA: O SERIADO MALHAÇÃO COMO CAMPO DE ANÁLISE
Resumo
Na tentativa de compreender de que forma as representações de gênero e sexualidade são produzidas na mídia brasileira direcionada ao público adolescente, o presente estudo analisou o seriado televisivo ?Malhação?, da emissora Rede Globo, transmitido desde 1995. Acredita-se que a mídia tem um importante papel social ao difundir informações sobre variados temas e, ainda, provocar discussões sobre esses. Além disso, a mídia, seja impressa ou digital, consegue apresentar diferentes realidades culturais e sociais em suas publicações ou transmissões. Percebeu-se que as produções referentes à adolescência e mídia é consideravelmente recente, tanto entre o senso comum como entre meio científico, uma vez que, no Brasil, esse debate só se intensificou com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, no ano de 1990. Com o recorte de tema sobre o seriado Malhação, objetivou-se realizar uma análise discursiva sobre as representações de gênero e sexualidade produzidas para o público jovem. Como metodologia, os Estudos Culturais, articulados com os Estudos Feministas de uma perspectiva pós-estruturalista, embasaram as análises. Entende-se, assim, a cultura como práticas de significação. Como material de investigação foram escolhidas três temporadas do seriado, dos anos de 1999, 2017 e 2019. Além disso, o estudo optou por abordar os aspectos teóricos e descritivos através da elaboração de três eixos temáticos, considerados marcadores centrais para a discussão pretendida: corpo feminino, sexualidade feminina e orientação sexual. Primeiramente foi realizada uma seleção de cenas que apresentassem a temática relacionada aos marcadores propostos. Após isso, houve uma descrição das cenas e uma correlação destas com a fundamentação sobre as temáticas. No decorrer da análise das cenas foi observado que em todos os eixos houve mudanças nas representações abordadas por cada temporada. De modo geral, a temporada de 1999, se comparada com as demais, trouxe as noções mais conservadoras direcionadas às temáticas (com conceitos tradicionais sobre formação familiar, tradições e modos de ser em geral), como o corpo feminino e sexualidade, enquanto outras questões apresentaram diálogos mais amplos. Em relação às questões de orientação sexual, em 1999 não houveram representação em torno da temática, fato que comprovou o quanto esse debate é recente e, ainda que apareça na temporada de 2019, coloca-se de maneira moderada na mídia televisiva. Ainda na temporada de 2019, o debate sobre primeira relação sexual, também retratada em 1999, voltou a ser tema sobre o que é aceito socialmente sobre a sexualidade feminina. Percebe-se que as discussões acerca do corpo feminino estiveram presentes nas três temporadas, desde diálogos sobre os direitos femininos até a aceitação do corpo fora do padrão publicitário. Foi possível perceber que os fenômenos que envolvem as temáticas abordadas neste estudo, tiveram grande influência nas representações dos enredos das temporadas 2017 e 2019 de Malhação, fato que torna de grande valia o estudo mais aprofundado acerca desse período. Frente a isso, infere-se que a produção de sentidos sobre a adolescência na mídia não foi sempre a mesma, tratando de temas, ao longo dos anos, de acordo com aspectos sociais e políticos da época da transmissão.
Apontamentos
- Não há apontamentos.
ISSN 2764-2135