A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO MÉDICA NA PANDEMIA DE SARS-COV-2 NO COMBATE À HANSENÍASE

Jordana Vargas Peruzzo, Irene Souza, Henrique Ziembowicz, Larissa de Camargo Subtil, Lorenzo Garcia Onófrio, Manoela Badinelli Vaucher, Camilo Darsie de Souza

Resumo


Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), posto em voga pela Agenda 2030, visa a acabar com as epidemias de AIDS, tuberculose, malária e Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs). Dentre as DTNs, a hanseníase, uma patologia infectocontagiosa crônica, tem como agente etiológico o bacilo Mycobacterium leprae e, predominantemente, apresenta manifestações cutâneas, nos nervos periféricos, na mucosa do trato respiratório superior, podendo resultar em neuropatia a longo prazo. Tal patologia é transmitida através de gotículas respiratórias no ar durante o contato com doentes não tratados. Além disso, a classificação da doença dependerá do número de lesões na pele, como paucibacilares (PB) ou multibacilares (MB) - classificação operacional utilizada no território nacional. O diagnóstico precoce de tal doença é fator decisivo para prevenir incapacidade e deficiências. O presente estudo objetiva analisar o panorama da hanseníase entre os anos de 2016 e 2021 no estado do Rio Grande do Sul, desvelar a importância da educação médica no contexto das Doenças Tropicais Negligenciadas durante a pandemia da Sars-CoV-2 e analisar a adequação dos índices da doença em relação à meta disposta pela Agenda 2030. Trata-se de um estudo transversal por meio da base de dados do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul. Na coleta de dados, foram incluídos os dados de hanseníase em indivíduos residentes do estado do Rio Grande do Sul (RS), no período de 2016 a 2021. As variáveis analisadas foram os casos confirmados de hanseníase, os casos notificados, o número de casos quanto às classificações operacionais de hanseníase, o esquema terapêutico e o número de casos de acordo com os graus de incapacidade física. Como resultado, foi encontrado que nos anos de 2015 e 2019 foram diagnosticados, no Brasil, 137.385 casos novos de hanseníase. Ademais, foi analisado que, entre 2010 e 2019, houve uma redução de 37,7% da taxa de detecção de novos casos da doença. No período verificado no estudo transversal, foram confirmados 725 casos de hanseníase, sendo 70% nos anos de 2016, 2017 e 2018. Do número total de casos, 88% eram a forma multibacilar da doença, 50% apresentaram algum grau de incapacidade física no momento do diagnóstico e 80% realizaram o esquema terapêutico padrão. A relevância do predomínio da forma multibacilar se dá pelo fato de que, por apresentar uma maior número de bacilos, pode refletir um diagnóstico realizado mais tardiamente e, se não tratada, possui potencial de transmissão. Conclui-se, a partir do grau de incapacidade física encontrada no momento do diagnóstico da doença e do predomínio da forma multibacilar, que existe um atraso no diagnóstico de hanseníase e que a doença é subdiagnosticada no estado do Rio Grande do Sul. Outro aspecto importante é a redução de casos desde o ano de 2020, que pode estar relacionada com o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19 e a baixa procura dos pacientes por atendimento. Além disso, o ensino médico à distância, que também foi instalado devido às medidas de restrição social, não colaborou com o aprendizado clínico e prático relacionados ao diagnóstico da hanseníase. Assim, é evidente a necessidade de reafirmação das práticas educacionais sobre a micobacteriose. Por fim, os ODS preconizam acabar com as Doenças Tropicais Negligenciadas até 2030, e tal feito, mesmo que ainda não tenha sido realizado, continua em progresso.


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ISSN 2764-2135