EDUCAÇÃO, TERRITÓRIOS E INVISIBILIDADES: PROFESSORAS NEGRAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM SANTA CRUZ DO SUL

Sara Ester Paes, Camilo Darsie Souza

Resumo


Introdução: O racismo atravessa a população brasileira por meio da limitação de oportunidades e de manifestações de depreciação em relação às origens e cores de diferentes pessoas. Tais situações ocorrem publicamente ou se articulam à um conjunto de expressões e comportamentos que, sutilmente, marcam diferentes posições entre brancos e negros. Quando associado às questões de gênero, o racismo promove desafios ainda maiores, já que as disparidades existentes entre homens e mulheres acarretam violências que merecem atenção. Essas questões orientam práticas sociais e escolares que precisam ser problematizadas para que promovam a equidade em lugar da discriminação, especialmente no contexto da educação. Objetivo: O estudo objetivou identificar e discutir a presença de professoras negras nas escolas de Educação Básica da cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Metodologia: Pesquisa qualitativa, desenvolvida por meio de levantamento bibliográfico e discussão de dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEPE), tratados e publicados pelo Portal GeoSaúde. O conceito de território foi utilizado como lente analítica por considerar as relações de poder que se projetam no espaço. Resultados: Mulheres são 28% de um total de 55,8% de negros, no Brasil. Negros correspondem a 54,9% dos trabalhadores, mas a suas presenças em lugares de destaque profissional, como gestão e ensino, é estatisticamente insignificante. As mulheres negras ainda sofrem com a ideia de que suas capacidades intelectuais e laborais não superam as posições de “mulata sensual” ou da “criada” doméstica. Essa realidade é reforçada pela falta de capacitação técnica e formação em nível superior. A população negra, de 18 a 24 anos, com curso superior, aumentou, já que em 2016 representava 50,5% e, em 2018, 55,6%. Porém, permaneceu abaixo do percentual de brancos da mesma faixa etária em 2018, 78,8%. Negros passaram a somar 50,3% dos estudantes de Ensino Superior da rede pública, porém, como formam a maioria da população (55,8%), ainda permaneceram como sub-representação em tais ambientes, já que grande parte dos estudantes se encontram em Universidades privadas. Das mulheres que trabalham na Educação Básica do município estudado, 1.700 (81,8%) se declaram brancas, 78 (3,8%) pardas e 71 (3,3%) pretas. No que se refere às Professoras Titulares, 1.043 (83%) se declararam brancas, 27 (2,2%) pardas, 33 (2.6%) pretas. Identifica-se a invisibilidade das professoras negras a partir da emergência de territorialidades que as apartam, a partir de aspectos raciais e de gênero, de forma não declarada, dos ambientes ligados à educação, desde o momento de suas formações até a fase das atividades profissionais. A noção de invisibilidade se estabelece pela pouca ou inexistente permanência e circulação destas mulheres nos espaços universitários e escolares que se tornam territórios ocupados predominantemente por pessoas brancas e, entre os negros, por homens. Conclusão: Apesar desta preocupação não ser jovem, entende-se que ela nunca foi superada e, principalmente, que nos últimos anos passou a ser marcada por retrocessos que envolvem governos e sociedade. Esta dinâmica reforça uma lógica excludente e perversa. A falta de representatividade de mulheres negras nas escolas da cidade, solidifica o racismo estrutural que molda a sociedade brasileira.

  

 


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ISSN 2764-2135