EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DE UMA ANÁLISE INSTITUCIONAL

Giulia Netto Löbler, André Weber de Vargas, Alissia Gressler Dornelles

Resumo


A presente escrita é fruto de uma experiência de análise e intervenção institucional através da disciplina de Estágio Básico A - Processos Institucionais, do curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul. A Análise Institucional é compreendida como uma forma de intervir no cotidiano das instituições. Aqui, o profissional da Psicologia é quem provoca dobras nas certezas já instituídas. À luz da pandemia, se faz necessário pensar nos caminhos tomados pela Educação neste contexto. Para tanto elegeu-se como campo de análise a Educação frente ao cenário que se coloca. Tomou-se, então, como campo de intervenção uma escola de ensino fundamental, localizada no interior do município de Candelária/RS. A invenção de novos modos possíveis de se fazer Análise Institucional, uma vez que, diante de uma crise sanitária somos forçados ao distanciamento social, se impôs enquanto um desafio. Foram realizados cinco encontros com as professoras, gestoras e funcionárias da escola, mesclados entre os ambientes virtuais e presenciais. Nestes encontros se identificou como demanda institucional a atenção à saúde mental e,  portanto, foram propostas duas atividades distintas objetivando explorar essa temática. A primeira, para o corpo docente e demais funcionários, consistiu na escrita de cartas que tentassem dar contornos aos sentimentos, angústias, medos e anseios vivenciados nos últimos tempos. À leitura dessas cartas somente a professora supervisora, o estagiário e a estagiária tiveram acesso, garantindo o sigilo de seus conteúdos. Já a segunda, ainda com o mesmo objetivo, foi direcionada aos alunos da escola, cuja proposta consistiu na elaboração de cartazes que refletissem suas emoções e sentimentos.  A finalidade das duas propostas é comum: valer-se da escrita e da arte a fim de viabilizar a escuta e o acolhimento, mesmo que à distância. A intervenção produziu dois cartazes e 47 cartas, sendo que quatro turmas optaram por escrever cartas ao invés de produzir cartazes. Na análise das cartas das professoras e funcionárias, destacam-se o medo e a insegurança frente aos tempos de pandemia que vivemos. Lamenta-se o excesso de trabalho, a falta de tempo e lazer, e o descaso de algumas instituições públicas. Os escritos revelam a tentativa de vislumbrar o lado positivo do contexto, a necessidade de resistir em nome dos alunos e a fé enquanto esperança. Na análise do material produzido pelas crianças, destacam-se dois pontos: o luto e o medo. Luto não somente pela perda de entes queridos, o que surgiu em algumas cartas, mas também pela perda e privação de muitos objetos de investimento da libido: as brincadeiras, o futebol, os abraços, os sorrisos, os amigos, o recreio, a escola - elementos perdidos devido ao isolamento social. E o medo pela perda de pessoas amadas, o medo dos noticiários, o medo do Covid-19. Apenas uma criança lamentou a dificuldade em aprender. O cerne das produções das crianças foi a falta do ambiente escolar e de tudo que o engloba, para além da aprendizagem. Através da análise realizada na instituição, das visitas e contatos realizados, e também da leitura dos materiais produzidos, percebe-se que a instituição escolar não é tão somente um espaço de formação educacional que objetiva atender às necessidades do Estado, de uma sociedade, mas sim um espaço que extrapola tais limites e se configura enquanto um importante produtor de subjetividades e pertencimento, de vínculo social, de afeto, de acolhimento e de comunidade.

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ISSN 2764-2135