AS IMPLICAÇÕES DE DOCENTES NO PROCESSO DE ADOECIMENTO E MEDICAÇÃO FRENTE À PANDEMIA DA COVID-19

Stefanie Schmidt, Jerto Cardoso da Silva, Luiza Tamara de Almeida Leal, Cleimar Luís dos Santos

Resumo


As instituições de ensino brasileiras tiveram que suspender, em março do ano de 2020, suas atividades educacionais presenciais em decorrência da pandemia da Covid-19. Assim, as aulas que antes eram presenciais, passam para o regime remoto de forma emergencial. Em meio a toda essa situação marcada por incertezas e medos, foi imposta aos professores a invenção de formas de ensino nas quais a Tecnologia da Informação é a sua principal ferramenta de trabalho. Tal atividade passa a invadir a vida privada dos docentes, que ficam expostos a condições de trabalho improvisadas e a jornadas extenuantes. Isso contribui significativamente para a deterioração das condições de saúde desses profissionais. Desse modo, o presente estudo é um recorte da pesquisa “Medicalização, Saúde e Adoecimento Docente na Educação Básica" que objetiva compreender e problematizar os depoimentos de docentes referente à saúde mental e suas formas de cuidado frente ao sofrimento físico e psíquico. Trata-se de uma pesquisa quantiqualitativa na qual foram aplicados questionários contendo questões abertas e fechadas através da plataforma Survio, em 140 professores que atuam em escolas de ensino fundamental e médio dos Vales do Rio Pardo e Taquari. Para análise dos dados quantitativos, foram criadas planilhas de frequência no software Microsoft Office Excel e para a análise dos dados qualitativos foi utilizada a Análise de Conteúdo de Laurence Bardin, em que os dados foram divididos em áreas temáticas, chegando a categorias para a discussão. Os dados coletados apresentam que 33% da amostra raramente fez uso de medicações, 19% utilizou medicação às vezes, 13% fez uso frequente e 35% fez uso contínuo de alguma medicação. Desses medicamentos, 65% foram usados com prescrição médica, enquanto 35% foram utilizados sem prescrição. Ademais, 29% dos docentes utilizam medicação para ansiedade, 17% depressão, 1% transtorno obsessivo compulsivo, 1% bipolaridade, 1% déficit de atenção e hiperatividade, 1% estresse pós traumático e 2% outras doenças psiquiátricas. Atrelado a isso, os professores referem que vivenciam um processo de precarização de suas condições de trabalho, com baixos salários e desvalorização social e profissional. Por conta das mudanças de trabalho impostas pela pandemia, muitos docentes não estavam familiarizados com os aparatos tecnológicos e plataformas digitais, não tendo um preparo ou capacitação para exercer sua função. Assim, esses profissionais tiveram que se adaptar abruptamente a esse novo formato de ensino e com o ambiente virtual, tendo que conciliar sua vida pessoal, familiar e atividades domésticas, com atividades profissionais. Nesse contexto, percebe-se um aumento de docentes adoecidos que recorrem ao uso da medicação em uma tentativa de restabelecer suas condições de trabalho de forma imediata. Percebemos que ao buscar minimizar, tratar e, muitas vezes, extinguir a doença apenas pela via medicamentosa, sintomas, sentimentos e sofrimentos que fazem parte da vida, principalmente, do ambiente de trabalho são eclipsados. Sendo assim, identifica-se que cada vez mais a medicação vem sendo empregada por docentes como suporte para o exercício da sua atividade, assim como, para o tratamento de sintomas resultantes do exercício de sua profissão. Por isso, torna-se importante refletir acerca das configurações e inter-relações do trabalho docente, suas condições de produção, suas relações com o adoecimento físico e mental e o seu processo de medicalização.

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ISSN 2764-2135