SABERES POPULARES E MEMÓRIA SOCIAL: TERRITÓRIOS ALIMENTARES NA REGIÃO DO VALE DO RIO PARDO

Hosana Hoelz Ploia, Everton Luiz Simon, Cheron Zanini Moretti

Resumo


A comida, como categoria de investigação, abriga significados múltiplos, de natureza cultural e social, à técnica e científica. Os estudos das práticas alimentares, da região do Vale do Rio Pardo, viabilizam a compreensão de relações entre educação, trabalho e produção de alimentos, unidas a outras significações inerentes até o consumo alimentar, pelos sujeitos produtores e comensais, entre si e com o meio em que habitam. A pesquisa decorre de atividades do projeto de pesquisa “Educação, Trabalho e Alimentação: Saberes, Práticas e Políticas em espaços não escolares”, e de participação no grupo de pesquisa “Educação Popular, Metodologias Participativas e Estudos Decoloniais”. Através da análise de entrevistas semi-estruturas de pesquisa de campo, realizadas por um dos pesquisadores, as quais versam sobre especificidades alimentares da região supracitada, buscou-se verificar a prática do exercício e (re)produção de saberes populares nos processos relacionados à alimentação, e qual o papel da Educação Popular, na interface do trabalho diário, para garantir a manutenção das culturas alimentares locais. Além disso, objetivou-se interpretar as preferências, as simbologias, as interferências, as transmissões e as identidades, que, por intermédio da comida, configuram territórios num meio único: o regional. Quanto a isso, as narrativas alimentares representativas, tanto de costumes culturais quanto de aspectos sociais, enfatizam o espaço no qual os consumidores vivem enquanto determinante do acesso a alimentos e o exercício de saberes populares, como é manifestada pela dualidade entre campo e cidade. Assim, nota-se a intrinsidade, no âmbito alimentar, entre ambiente e atuação dos sujeitos produtores e/ou consumidores; as escolhas alimentares, nesse sentido, são percebidas como indiretas, devido à imposição, muitas vezes inconsciente, de novas decisões de consumo e produção de alimentos, com implicação de descontinuidade de maneiras e preferências recorrentes e identitárias até então. Nessa configuração social e espacial, maximiza-se a invisibilidade conferida aos saberes populares na produção de comidas, e de manutenção de costumes tradicionais relacionados à comensalidade. A partir da identificação de tais saberes diversos - populares, da experiência, saber fazer -, foi possível estipular as particularidades alimentares difundidas na região, de maneira plural e com conexões étnicas mútuas não exclusivas, com maior representação nas falas dos entrevistados, sobretudo, de descendência alemã e italiana. A etapa seguinte da pesquisa objetiva identificar e reconhecer os saberes populares da alimentação de comunidades indígenas e quilombolas da região, numa perspectiva decolonial, para representação integral das etnicidades integrantes dos territórios alimentares, que são, também e primeiramente, suas formadoras e mantenedoras. Como resultado da pesquisa, constatou-se que a memória, além de instrumento de representação, potencializa a valorização e continuidade das atividades tradicionais alimentícias das etnias - originárias e imigrantes - do Vale do Rio Pardo, como resposta de resistência às ameaças impostas ao que é popular e identitário, do que a alimentação, muito mais do que nutricional para a saúde física, participa como agente de significações (inter)pessoais, pelos valores construídos nos atos dinâmicos do comer no espaço-tempo histórico-regional.

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ISSN 2764-2135