PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA E A PROMOÇÃO DA SAÚDE: UMA ANÁLISE DO CONTEXTO DE PANDEMIA E DE ESTIAGEM NO VALE DO RIO PARDO.
Resumo
Este estudo apresenta um recorte do projeto de pesquisa Educação, Trabalho e Emancipação: as experiências pedagógicas das Escolas Famílias Agrícolas do Vale do Rio Pardo – RS. Esse trabalho tem como objetivo problematizar o papel da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (EFASC) na promoção de saúde no contexto de pandemia e de estiagem a partir da Pedagogia da Alternância. Trata-se de uma pesquisa qualitativa em que nos detivemos a sistematizar os conhecimentos produzidos pela EFASC durante o período de pandemia e sua relação com a promoção da saúde. Para isso, utilizamos o relatório das pesquisas realizadas com os/as estudantes e as famílias de agricultores/as sobre atividades pedagógicas e trabalho cotidiano no contexto de pandemia e de estiagem. Além disso, realizamos entrevistas com estudantes e monitores da EFASC. Como orientação teórico-epistemológica, tomamos os princípios da educação popular, educação popular em saúde e da educação do campo como fundamentos para análise. Por essa razão a observação participante também fez parte de nosso percurso metodológico. Durante o ano de 2020, a EFASC precisou fazer diversas adaptações devido ao contexto sanitário e ambiental, o que além de ser um desafio pedagógico, trouxe um debate necessário sobre o papel da Pedagogia da Alternância, na promoção da saúde das famílias e das comunidades abrangidas pela escola. Somado a isso, vive-se um período de estiagem, que afeta de forma importante as comunidades agrícolas, incluído às famílias que compõem a EFASC, fazendo com que as questões de saúde mental dos/das estudantes, de segurança e soberania alimentar, de aumento no preço dos alimentos e de como a falta de água afeta as comunidades, seja trabalhada com a articulação do ensino e aprendizado vivencial, em tempos-espaços alternados. Em relação à pandemia percebe-se clara preocupação das famílias com um retorno à normalidade que ponha em risco seus membros, na qual três a cada quatro famílias dizem estar realizando isolamento social e mais de 90% acreditam que o isolamento é efetivo para conter o vírus e 60% acreditam ser provável ou muito provável que o sistema de saúde entre em colapso novamente. A segurança alimentar é uma preocupação da comunidade escolar na qual mais de 75% das famílias acreditam que aumentará o número de pessoas passando fome e, com isso, impactando a soberania alimentar. Além disso, a estiagem no Rio Grande do Sul, em 2020, ocasionou impactos importantes na disponibilidade de água para consumo humano e para consumo animal, além de afetar na produção agrícola, sendo apontado pelos/as estudantes como causas principais: o desmatamento no Brasil, as queimadas das florestas e o uso intensivo de agrotóxicos. Ou seja, apresentam uma visão sistêmica e crítica sobre o contexto. Visto que a Pedagogia da Alternância está baseada na relação teórico/prática entre o meio sócio-profissional (escola) e o meio sócio-familiar (família e comunidade) dos/as jovens, a sistematização de informações e a sua consequente reflexão foram relevantes para a proposição de soluções para os problemas educacionais, ambientais e sanitárias. Além disso, percebe-se que essa relação pedagógica é também um instrumento de promoção da saúde ao desenvolver a autonomia desses sujeitos e comunidades para a busca de um conceito de saúde ampliado que contemplem as necessidades locais-regionais e individuais-coletivas em saúde.
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ISSN 2764-2135