CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM EM LARANJA MECÂNICA: A VIOLÊNCIA E SUAS MOTIVAÇÕES

Lucca Mânica Herzog, Rafael Eisinger Guimarães

Resumo


Os romances distópicos, assim como muitas produções artísticas, são reflexos de nossas concepções sobre o futuro da humanidade. Nessas obras, a representação crítica de nossos temores e das tendências nocivas das sociedades contrastam com a comum concepção de progresso, de evolução tecnológica e de ordem política. No centro dessas ficções, encontra-se o elemento humano da narrativa, a personagem, que possibilita, por sua perspectiva, a experiência dos ambientes que a envolvem, as relações humanas que a atravessam e, por isso, a associação da ficção distópica e de seus mundos alternativos com a realidade e com as diferentes civilizações e organizações sociais. Considerando a atual situação do Brasil e do mundo, bem como o Objetivo 16 da Agenda 2030 da ONU, que promove a paz, a redução da mortalidade e da violência, essas questões são essenciais para a compreensão da contemporaneidade e para a manutenção de uma consciência crítica que garanta uma comunidade sustentável. Em vista disso, como parte do projeto de pesquisa Perspectivas contemporâneas sobre a personagem, do PPGL UNISC, este estudo, ainda em desenvolvimento, tem como proposta analisar a construção do narrador personagem em Laranja Mecânica, de Anthony Burgess. Mais precisamente, de que maneira, pelo discurso, se desenvolvem possíveis fatores do comportamento violento - e aparentemente gratuito - do protagonista da obra. Objetiva-se determinar, portanto, qual a motivação do protagonista para o uso da violência. Para isso, identificaram-se as cenas em que este emprega a violência, investigaram-se os elementos discursivos que indicam causas (explícitas e implícitas) de um comportamento violento e se elaborou um catálogo de possíveis motivações para tanto. Posteriormente, por meio da verificação da construção narrativa da personagem - esse ser que é textual -, a crítica sobre o corpus será realizada por uma abordagem hipotético-dedutiva e qualitativa, a fim de utilizar teóricos da narratologia e dos estudos da personagem, tais como Forster (1969), Fishelov (1990) e Mieke Bal (2017), e autores que tratam de caráteres distópicos, como Erich Fromm (1961) e Michel Foucault (2004). Como resultados parciais de pesquisa, podemos destacar que a personagem em questão, tendo em vista suas possíveis motivações, é complexa, tanto em seu nível textual como no nível estrutural de sua composição. Pode-se dizer que o narrador, de maneira geral, apresenta um discurso que não explicita ou até oculta muitas de suas razões, mas estas podem ser inferidas por indícios discursivos e pelas relações intratextuais. São algumas dessas motivações identificadas: o desejo higienista, o desprezo/aversão e a revolta. 


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ISSN 2764-2135