TERAPIA LARVAL COMO ADJUVANTE NO TRATAMENTO DE FERIDA CIRÚRGICA EM EQUINO ATENDIDO NO HOSPITAL VETERINÁRIO UNISC

Eloisa Renata Luz, Gabriele Biavaschi Silva

Resumo


O uso de larvas estéreis de dípteros cultivadas em laboratórios para debridamento de feridas é amplamente descrito como alternativa para desinfecção tecidual e estímulo à granulação. A terapia larval não necessita de procedimento cirúrgico-anestésico para ser empregada e minimiza o uso de antimicrobianos. As secreções larvais promovem a remoção de debris celulares, possuem função fibrinolítica e anti-inflamatória. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um equino, macho, aproximadamente dez anos, SRD recebido para atendimento no Hospital Veterinário da Universidade de Santa Cruz do Sul, apresentando extensa massa acometendo as pálpebras e anexos oculares direitos. O paciente foi submetido a exame clínico geral e oftalmológico onde se evidenciou pronunciada aderência da massa ao globo ocular, impossibilitando a preservação do mesmo. Devido à natureza invasiva da massa optou-se pela exenteração do globo ocular e exérese da neoformação sob anestesia geral. O tecido removido foi encaminhado para análise histopatológica, tratando-se de um sarcóide. Devido à extensão da massa, não foi possível realizar a oclusão da ferida cirúrgica, optando-se pela cicatrização por segunda intenção. No pós-operatório o paciente recebeu aplicações sequenciais de antibiótico à base de penicilina (20.000 UI/kg, intramuscular, q48h, três aplicações) e flunixim meglumine (1,1 mg/kg, intravenoso, q24h, 5 dias). O sítio cirúrgico foi ocluído com uso de compressa estéril por 72h, e após iniciou-se a troca de curativos até a cicatrização completa da ferida. Ao momento da retirada da compressa o tecido encontrava-se com aparência desvitalizada, com acúmulos de fibrina e secreção piossanguinolenta. A limpeza do local foi realizada com solução fisiológica estéril seguida de fricção com gaze embebida com solução de clorexidine degermante 2%. Após a remoção do tecido, foi confeccionado curativo com pomada de sulfadiazina de prata. Após 10 dias do início da confecção de curativos, a lesão apresentava áreas de granulação entremeadas a porções desvitalizadas, com secreção sanguinolenta e deposição de fibrina. A fim de acelerar o debridamento tecidual e descontaminação da ferida optou-se então pela instituição da terapia larval. As larvas utilizadas nesse relato pertencem à família Calliphoridae e foram escolhidas devido à sua atividade fagocítica estrita de tecido necrótico, mantendo intactas as áreas saudáveis. Foi realizada uma única aplicação de cerca de 500 larvas L1 de em Lucilia cuprina, as larvas permaneceram por 48h e após foram removidas manualmente.  Durante o tempo de permanência das larvas não foi realizado o manejo da ferida evitando a remoção antecipada destas. No momento da retirada do curativo a ferida foi limpa com solução salina estéril e clorexine degermante 2%. Após aplicação das larvas a ferida estava granulada, livre de secreções e odores. Seguiu-se a manutenção dos curativos com uso de pomada de clorexidine até a completa epitelização da órbita, 52 dias após a cirurgia. O paciente recebeu alta clínica aos 55 dias de pós-operatório. Até o momento o paciente encontra-se saudável e sem sinais de recidiva. A terapia larval cumpriu com os efeitos esperados acelerando a resolução da ferida, promovendo a granulação do tecido e desinfecção do sítio cirúrgico.

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ISSN 2764-2135