CONEXÕES ENTRE PREVENÇÃO QUATERNÁRIA E EDUCAÇÃO MÉDICA
Resumo
INTRODUÇÃO: O conceito de prevenção quaternária (P4) refere-se a um fazer em saúde voltado à proteção do paciente contra iatrogenias. Embora recente, a ideia da P4 cada vez mais está sendo integrada aos currículos das faculdades de Medicina no Brasil e levanta debates sobre a importância de uma prática médica livre de exageros que possam causar mais danos do que benefícios aos pacientes. OBJETIVOS: Verificar as conexões entre a prevenção quaternária e a educação médica no Brasil. METODOLOGIA: Foi realizada, durante o mês de julho de 2022, uma revisão narrativa da literatura, a partir da busca por artigos nas bases de dados Scientific Eletronic Library (SciElo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Acadêmico, utilizando os descritores “prevenção quaternária” e “educação médica”, com o operador booleano AND. Os critérios de inclusão foram artigos publicados nos últimos cinco anos, em língua portuguesa e disponíveis na íntegra. Foram excluídos os trabalhos que não correspondiam aos objetivos e ao escopo da presente revisão. PRINCIPAIS RESULTADOS: A busca resultou em 80 publicações (duas na SciElo, nenhuma na LILACS e 78 na Google Acadêmico). Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão do estudo, foram selecionados oito trabalhos para compor a presente revisão, destacando-se o diminuto número de publicações sobre o tema. Os artigos encontrados apresentaram principalmente o conceito de prevenção quaternária, e reforçaram a iatrogenia como uma mazela, muitas vezes atreladas a interesses comerciais, às relações dos serviços de saúde privados com a indústria farmacêutica, bem como à ausência de foco em um uso racional de recursos na saúde, destacando a importância da inclusão da temática na educação médica. A ascensão da Medicina Baseada em Evidências (MBE) e da humanização na saúde, ambas práticas conectadas com a P4, trouxeram a necessidade de reformulação curricular, culminando com a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a Graduação em Medicina de 2014. Apesar das DCN não mencionarem explicitamente o conceito de P4, diversos elementos seus apontam para o tema como forma de construir uma educação médica mais crítica, reflexiva, ética, individualizada, humanizada e baseada no uso racional, fundamentado por evidências, dos recursos em saúde. A tradição biomédica no ensino de Medicina no Brasil ainda causa uma resistência em mudar o foco do olhar da patologia para o paciente como um todo, dificultando a inclusão da P4 nas grades curriculares e, apesar das orientações das DCN de 2014, ainda persiste uma visão em que predomina o biologicismo e relega os demais elementos para um segundo plano de importância. CONCLUSÕES: Pode-se inferir que a P4 é fundamental para a formação de médicos mais humanizados e reflexivos, que não desperdicem recursos, que ofereçam um tratamento individualizado e que evitem ações que possam causar mais danos aos pacientes do que benefícios. Além disso, a P4 auxilia no exercício da MBE e no desenvolvimento de um pensar mais críticos, bem como contribui para a formação de médicos mais éticos, ajudando a combater uma visão mais arcaica voltada exclusivamente para aspectos biomédicos e que não permite enxergar o paciente em sua totalidade. Apesar da importância da P4 na educação médica, salientam-se os desafios a serem superados para sua implantação nos currículos das escolas médicas brasileiras.
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ISSN 2764-2135