INTERAÇÕES LONGITUDINAIS ENTRE ADIPOSIDADE E CONSUMO DE OXIGÊNIO DE PICO NA SAÚDE CARDIOMETABÓLICA DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA: UMA ABORDAGEM LINEAR MULTINÍVEL

João Francisco de Castro Silveira, Ana Paula Sehn, Leticia Borfe, Cézane Priscila Reuter

Resumo


Introdução: O escore contínuo de risco cardiometabólico (ERM) tem sido utilizado em populações infanto-juvenis como um indicador da saúde cardiometabólica e do risco de desenvolver doenças crônicas mais tarde durante a vida adulta. Estudos sugerem que o principal fator de risco à saúde cardiometabólica seja a alta adiposidade corporal, sendo a gordura visceral a mais prejudicial. Todavia, há estudos que sugerem que esse risco pode ser atenuado por um estilo de vida fisicamente ativo e, por consequência, maior capacidade cardiorrespiratória. Objetivo: Avaliar longitudinalmente a interação entre circunferência da cintura (CC) e consumo de oxigênio de pico (VO2pico) no desenvolvimento de risco cardiometabólico em crianças e adolescentes. Método: Estudo observacional longitudinal com 417 sujeitos de ambos os sexos, avaliados em dois momentos do projeto mãe ‘Saúde dos Escolares’ (2011/12 e 2014/15). Em ambos os momentos, foram avaliados a CC, pressão arterial sistólica, níveis de glicose, colesterol total, colesterol HDL e triglicerídeos. Além disso, o VO2pico foi estimado utilizando equações validadas a partir dos testes de corrida e caminhada de 9 (R2 = 0,35) e 6 minutos (R2 = 0,35) em 2011/12 e 2014/15, respectivamente. Escores Z foram calculados para as variáveis CC, VO2pico e também para os fatores de risco cardiometabólicos (pressão arterial sistólica, glicose, triglicerídeos e razão entre colesterol total e colesterol HDL) de acordo com valores de referência internacionais levando em consideração o sexo e a idade dos participantes. Sendo que, posteriormente, os escores Z dos fatores de risco cardiometabólico foram utilizados no cálculo de um ERM. Modelos lineares multiníveis, tendo como desfecho a variável ERM, foram construídos hierarquicamente com estimativa por máxima verossimilhança, incluindo o intercepto como efeito aleatório (dados aninhados dentro dos participantes) e efeitos fixos para a diferença de tempo entre os momentos de avaliação de cada participante, escore Z de CC e de VO2pico e suas interações. O primeiro modelo incluiu apenas efeitos de primeira ordem; o segundo modelo incluiu efeitos de primeira e segunda ordem; e o terceiro modelo (final) incluiu efeitos de primeira, segunda e terceira ordem. A abordagem pick-a-point foi utilizada para visualizar a influência da interação levando em consideração os percentis 16, 50 e 84 de tempo, CC e VO2pico para representar níveis baixos, medianos e altos dessas variáveis. Resultados: O modelo final (-2log-likelihood = 1608,197) demonstrou interação estatisticamente significativa entre tempo, escores Z de CC e de VO2pico (ß = 0,031; IC95% = 0,001; 0,061; p = 0,046), indicando que os valores de risco cardiometabólico variam linearmente de acordo com diferentes níveis de CC e VO2pico. Por meio da abordagem pick-a-point foi possível visualizar que pessoas com maiores níveis de CC tendem a ter os níveis mais altos de risco, enquanto que melhores níveis de VO2pico podem atenuar o alto risco cardiometabólico, independentemente do nível de CC. Conclusão: Longitudinalmente, os níveis de adiposidade e VO2pico interagem no perfil de saúde cardiometabólica de crianças e adolescentes. Sugere-se que bons níveis de aptidão cardiorrespiratória e menores níveis de adiposidade corporal, especialmente adiposidade central, sejam mantidos desde tenra idade.

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ISSN 2764-2135