O DESCONTINUAMENTO DE TECNOLOGIAS E O ARQUIVAMENTO DIGITAL DE ARTE: POSSIBILIDADES APÓS O FIM DO SUPORTE DE UM SOFTWARE

Rodrigo Alvarenga de Souza Ourique, Júlia Roberta Quoos Alves, Juliana Proenço de Oliveira

Resumo


O desligamento do software Adobe Flash Player simbolizou o fim da Geração Flash de Lev Manovich. Tornando órfãos milhares de arquivos digitais, a desativação do software fez com que uma grande porção da World Wide Web ficasse indisponível a partir do início do ano de 2021. Neste cenário, alguns governos e iniciativas colaborativas criaram meios de fazer com que os arquivos de extensão .swf fossem recuperados e reproduzíveis novamente. Assim, o trabalho realizado teve como objetivo traçar um paralelo entre a desativação do Flash Player com a glitch art, analisando as características da cultura e estética glitch e suas relações com mídias obsoletas e os arquivos corrompidos. Com a realização de pesquisa bibliográfica com foco em arte de novas mídias, glitch art e arquivologia, foram encontrados softwares de leitura e escrita de arquivos .swf em projetos de arquivamento digital como Wayback Machine, FlashPoint e o navegador SARS eFiling. Nota-se que os dados perdidos através do fim do suporte e distribuição de um software em muito se assemelham à ideia da perda de controle sobre os próprios arquivos digitais. Ao contrário da crença popular, todos os arquivos digitais são suscetíveis à perda e incertos — especialmente devido à dependência tecnológica. Esta temática é fundamental para a glitch art, visto que sua atuação é mediante a perda ou disfunção da legibilidade computacional do código dos arquivos corrompidos. Essa dependência se destacou com navegador criado pelo governo da África do Sul como medida para manter seus sites disponíveis e funcionais na web, cujo objetivo principal era reabilitar o suporte ao Flash temporariamente até que o governo adaptasse seus websites para funcionar com HTML5. A glitch art ironiza e reapropria as questões de obsolescência programada e programável, mexendo com a memória de arquivos muitas vezes de terceiros (sampling/cultura de remix), geralmente de companhias privadas. Assim como repositórios, que buscam manter arquivos intactos, a glitch art se mostra a favor da pirataria e da cultura do compartilhamento. Através da análise realizada, foi possível concluir que a desativação do programa oficial da Adobe se deu mais por motivos financeiros do que por utilidade ou segurança do software. O corrompimento do Flash Player se deu de maneira proposital para acompanhar a tendência de marketing na comunicação e realizar a coleta de dados dos usuários. Tendo isso em mente, o caso Flash nos faz questionar sobre a confiabilidade temporal das tecnologias para o armazenamento, disponibilidade e manutenção de arquivos e gera uma necessidade de pesquisa em torno dos danos gerados pela dependência tecnológica.


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ISSN 2764-2135