REFLEXÕES SOBRE UM GRUPO DE FAMÍLIARES EM UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Resumo
O presente trabalho propõe uma reflexão teórico-analítica de prática desenvolvida no Estágio Integrado em Psicologia, realizada em um Centro de Atenção Psicossocial destinado aos pacientes cuja principal condição clínica é o uso prejudicial de álcool e outras drogas. Este serviço busca prover à população atendimento diário e planejamento terapêutico de evolução contínua. Algumas das atividades previstas pelo serviço incluem atendimento individual (medicamentoso e psicoterápico), atendimento em grupo, oficinas terapêuticas e visitas domiciliares. É também preconizado que este serviço ofereça condições para repouso e desintoxicação ambulatorial, bem como reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Dentre as atividades realizadas no serviço, destaca-se, no presente trabalho, o grupo terapêutico de familiares, cuja proposta e funcionamento se diferenciam dos demais grupos. O grupo de familiares se caracteriza por ser um grupo terapêutico aberto, com fluxo de pacientes que varia de acordo com a semana, suportando no máximo 8 pessoas, sendo aceito apenas um familiar por paciente. Neste sentido, a partir de observação participante, do registro em diário de campo, assim como, da leitura e estudo de referencial bibliográfico, buscamos refletir sobre o lugar do coordenador na grupoterapia com familiares de pacientes usuários de álcool e outras drogas. Como resultados, observamos a importância de um olhar que transcenda a prática curativa, contemplando o sujeito em todos os níveis de atenção e considerando o sujeito inserido em um contexto social, familiar e cultural. Por fim, a reflexão teórico-analítica revela a necessidade de um espaço que promova autoanálise do próprio serviço, na medida que se possa atentar para a sua condição sócio-histórico-cultural como um ponto de partida para estruturar e reorientar este modelo de Atenção à Saúde, composta por uma equipe multidisciplinar de profissionais engajados na busca de uma saúde humanizada e coletiva que proporcione qualidade de vida à população. Tal achado nos pareceu ser a condição primária para que preconceitos sejam silenciados, dando espaço para fazer soar a condição do outro. Pensar a ideia de cuidado não como conceito pronto e estático, mas como uma prática, um devir, algo que, por ser uma produção, não cessa. Uma produção de cuidado guiada por um projeto ético-político que resgata a autonomia, muitas vezes desestimulada pela família, reconhecendo o usuário como sujeito. É inerente à ideia de cuidado entender os usuários enquanto redes de existências capazes de conduzirem-se à própria produção de cuidado.
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ISSN 2764-2135