MUROS DAS MEMÓRIAS: A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO COLETIVO NO SUBPROJETO DE HISTÓRIA E SOCIOLOGIA - PIBID-UCS

Anay Camargo Rodrigues, Laura Bossle Carissimi

Resumo


O presente resumo apresenta o relato e um balanço com atividades que
envolveram trabalhos com a cultura dos jovens, enquanto conjunto de significados
e comportamentos construídos pelos diferentes contextos sociais e culturais dos
quais participam e que enriqueceram o processo de construção do conhecimento.
No âmbito escolar, as particularidades não têm espaço e os alunos, que deveriam
ser os atores do processo de educação, são meros receptores, deixando
guardadas as suas experiências, hábitos e culturas, renunciando também à
consciência de que aquele ambiente é parte integrante de sua identidade a partir
do momento em que os mesmos atuam, ainda que de forma involuntária nessa
construção social. Frente a isso, o processo de Educação Patrimonial em que o
Projeto Interdisciplinar de História e Sociologia da Universidade de Caxias do Sul
atuou, propiciou uma via de abordagem que diferiu da imposição vertical e admitiu
metodologias que valorizassem todos os agentes envolvidos, seus costumes,
suas vivências e suas relações interpessoais na construção de um patrimônio
coletivo. A depredação do patrimônio na escola Estadual de Ensino Médio João
Triches foi um fenômeno observado após pesquisa qualitativa realizada pelos
bolsistas do PIBID-UCS. A escola, situada na Zona Norte da cidade de Caxias do
Sul, atende alunos de diversos bairros. Recebendo diferentes grupos, constatouse
nessa pesquisa que a depredação do patrimônio escolar se manifestava por
meio das constantes pichações nas paredes e classes, cadeiras, mesas e portas
quebradas e outros tipos de violência contra o espaço físico. Vale ressaltar que
essa depredação era praticada de forma intencional e voluntária por parte dos
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alunos, na tentativa de personalizar os espaços de convivência. Concluiu-se que
os adolescentes não se sentiam pertencentes ao ambiente escolar, que as
pichações que surgiram nas paredes da escola estavam vinculadas a uma forma
de linguagem e de identidade, expressando pertencimento a algum grupo. O
presente projeto objetivou a prevenção da depredação do patrimônio escolar,
promovendo o sentimento de pertencimento entre os agentes da comunidade
escolar. Intentou também transformar o espaço físico de convivência dos
educando contemplando a multiculturalidade, promovendo o diálogo entre os
pares. Portanto, o aporte teórico que embasou o projeto Muros das Memórias
aprofundou os estudos das multiculturalidades, identidade e memória, dialogando
com a realidade do aluno, desmistificando as culturas periféricas marginalizadas
na sociedade (Bourdieu, 2000), além de contemplar a Pluralidade Cultural como
Tema Transversal, expresso nos Parâmetros Nacionais para a Educação (Brasil,
1998) e na visão de Silva e Brandim (2008, p.59) que afirmam que “uma proposta
educacional e curricular multiculturalista é importante na medida em que
reconhece o valor da pluralidade e a diversidade cultural, bem como a
necessidade da formar para a cidadania com base no respeito às diferenças”.
Num primeiro momento, o projeto reconheceu as multiculturalidades no âmbito
escolar, valorizou e incorporou as identidades na prática docente. O conceito de
identidade, que também embasou este trabalho e foi abordado sob a ótica de
Tomaz Tadeu Silva e Stuart Hall, proporcionou ao grupo desenvolver o processo
de significação e atribuição de valor que está diretamente relacionado às formas
como os sujeitos se inserem nos contextos culturais. Tendo como suporte o
conceito de memória, Nora (1993) vincula os lugares de memória como uma
resposta à necessidade do indivíduo de se identificar com grupos “regionais”
étnicos, de gênero, de gerações, entre outros. Foi importante para o educando
compreender que as memórias individuais e coletivas constroem a nossa
identidade assim como a de um grupo. É a partir da interação com o outro e das
relações com o meio que construímos o nosso sentido de pertencimento:
“Compreender o papel da memória dentro das diversas sociedades permite
indagar sobre o momento em que ela deixou de ser individual para tornar-se
coletiva” (CANO;OLIVEIRA; ALMEIDA; FONSECA, p.80, 2012). Na tentativa de
resgatar a memória individual e coletiva, o grupo Interdisciplinar PIBID -UCS
propôs aos alunos do 2° e 3° anos do Ensino Médio Politécnico, a coleta das
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memórias, a partir de cinco eixos norteadores, dentre eles: jogos e brincadeiras,
receitas de família, viagens da escola, histórias de família e memórias do grupo
social a que pertence. A metodologia consistiu na produção de zines1, que é um
formato mais atrativo para a faixa etária, procurando fugir do método tradicional
do historiador em transcrever as memórias. Os alunos criaram páginas com
desenhos, pinturas, imagens e outros elementos que ilustraram essas memórias.
Posteriormente, escolheram entre os integrantes de cada temática o layout que
faria parte do muro das memórias. Valorizando as habilidades dos alunos,
promovemos intervenções artísticas nas dependências da escola, através de
pinturas, grafite, entre outras expressões. O grupo deparou-se com os custos das
ações e por isso, foi convocado o Grêmio Estudantil, o CPM e a equipe de
professores com o objetivo de promover uma gincana, na qual uma das provas
definiu como pontuação válida a arrecadação de sprays, tintas, rolos, pincéis,
pigmentos, extensores de rolos, entre outros. Após a coleta dos materiais, foi
possível efetivar a etapa da arte nos muros. Concluímos com essa proposta que a
escola ainda não está preparada para acolher e promover a multiculturalidade que
existe no ambiente escolar. Percebeu-se que a escola reforça um ambiente de
exclusão e marginalização das culturas periféricas, não conseguindo dialogar com
os temas transversais propostos nos PCN’s (Brasil,1998), deixando de promover
a cidadania, o espaço para o diálogo, a problematização do contexto social que
faz parte da realidade do aluno. Porém, através do estudo da realidade escolar,
foi possível identificar os fatores que provocavam a depredação do patrimônio
presente como problema na escola e através da memória individual e coletiva,
fazer com que a comunidade escolar fosse co-participativa, de diferentes formas,
nesse processo. Essa colaboração formou uma cadeia de ações positivas em que
todos foram fundamentais para o processo de valorização do patrimônio coletivo
da escola.

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