DIMORFISMO SEXUAL NA ORGANIZAÇÃO HISTOLÓGICA DAS FIBRAS MUSCULARES DA LÍNGUA HUMANA
Resumo
A língua humana é um complexo órgão muscular constituído por diversos músculos intrínsecos e extrínsecos que estão envolvidos em diversas funções fisiológicas importantes, como a mastigação, deglutição, paladar, respiração e fonação. Uma disfunção da língua pode produzir alterações na voz, disartria, disfagia, dispneia e apneia obstrutiva do sono. A língua é capaz de produzir um grande número de movimentos e esta capacidade é atribuída à diversidade na orientação das fibras musculares que a compõem. Avanços no tratamento das doenças associadas à língua exigem uma maior compreensão da sua organização muscular/biomecânica; no entanto, esse conhecimento ainda é bastante limitado. Da mesma forma, pouco se conhece sobre a orientação das fibras musculares da língua em seres humanos, especialmente se existem diferenças entre homens e mulheres. Assim, o objetivo deste estudo foi comparar a organização histológica da língua de homens e mulheres, utilizando ferramentas matemáticas e estereológicas: a estimativa da área das fibras musculares, usando o método de contagem de pontos e a estimativa do coeficiente de forma das fibras musculares, denominado Shape Z. Dez línguas humanas foram estudadas, sendo todas obtidas a partir de necropsias (cinco homens e cinco mulheres). Os músculos foram analisados usando histologia convencional (Hematoxilina e Eosina) e os parâmetros morfométricos foram medidos utilizando o software Image Pro-Plus (Image Pro-Plus 6.0; Media Cybernetics, Silver Spring, MD, USA). Em todas as línguas desse estudo, três secções transversais foram realizadas a partir da região anterior, média e posterior. Classificou-se e estimou-se a porcentagem de fibras transversais (T), indefinidas (I) e longitudinais (L) em todas as secções. Para quantificar a porcentagem de fibras em cada categoria, o coeficiente de forma (Shape Z) foi estimado. Foram encontradas diferenças estatísticas entre a orientação/organização das fibras musculares de homens e mulheres apenas para a região média da língua. No músculo da língua dos homens, a distribuição das fibras musculares foi a seguinte: na região anterior, 74% de T, 16% de I e 10% de fibras L, na região média, 76% de T, 17% de I, e 7% de fibras L, e na região posterior, 69% de T, 20% de I e 11% de fibras L. Para as mulheres, a distribuição foi a seguinte: na região anterior, 72% de T, 19% de I, e 9% de fibras L, na região média, 51% de T, 34% de I e 15% de fibras L, e na região posterior, 63% de T, 26% de I e 11% de fibras L. Isto demonstra que, tanto em homens quanto em mulheres, as fibras musculares da língua estão dispostas em diferentes orientações nas três regiões analisadas. A região média da língua das mulheres quando comparada com a dos homens, tem uma pequena diferença estatística na variação da percentagem de fibras T (P = 0,018), I (P = 0,004) e L (P = 0,017). Essas diferenças presumivelmente conferem uma maior diversidade na orientação das fibras musculares nas mulheres com possível potencial para uma maior mobilidade muscular. Além disso, os nossos resultados podem ser considerados como pontos de referência básica para futuros estudos destinados a elucidar os diversos paradigmas funcionais em relação à hemiparalisia e hemiatrofia dos músculos intrínsecos e extrínsecos da língua. Desse modo, este estudo será importante para os clínicos, cirurgiões e acadêmicos que buscam elucidar as bases fisiológicas desse importante órgão muscular.
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