FORMAR OU ENCANTAR LEITORES? REFLEXÕES SOBRE LEITURA
Resumo
A formação de leitores é uma das maiores inquietações educacionais nos últimos anos. Tentativas de implementar essa prática se tornaram recorrentes nos educandários, a partir da instituição de uma hora semanal para a leitura, por meio da proposição de listas de leituras aos alunos - em geral, cobradas no vestibular - ou através da contação de histórias. Contudo, como afirmam Bordini e Aguiar, a leitura realizada pelos alunos durante o ensino básico, acaba, por vezes, se diluindo até quase completamente desaparecer, sendo substituída por outras atividades, muitas delas rentáveis, que apresentam uma finalidade específica. Cientes dessa situação, apresentamos nesse trabalho as atividades por nós desenvolvidas, como bolsistas do Programa Institucional de Iniciação à Docência - Pibid -, vinculado ao subprojeto 3: Letras Português, em torno das práticas de leitura. As oficinas de Língua Portuguesa têm em torno de dez participantes, que estudam no 5º ano da Escola Municipal Santuário, no município de Santa Cruz do Sul. Considerando os pressupostos de Paulo Freire, que ressalta a leitura da palavra como sucessora da leitura do mundo, do desvendamento do nosso universo primeiro - o familiar - selecionamos dez livros, entre narrativas e poesias, e os oferecemos aos alunos. Nosso objetivo é selecionar leituras que de alguma forma se assemelhem às vivências dos discentes, para aos poucos, ampliar suas experiências leitoras. Outros critérios que levamos em consideração para a seleção dos livros foram a qualidade literária do texto, que não deve ter finalidades outras além da fruição artística, sob pena de recair no didatismo ou no moralismo, além da ilustração que possui, de acordo com Luís Camargo, funções que ultrapassam o mero ornamento ou explicação do texto. Por isso, livros que apresentam ilustrações estereotipadas ou que as oferecem em excesso, propiciam uma visão distorcida da realidade, que não emancipa e não estimula a imaginação, já que, para Gaston Bachelard, é preciso "fechar os olhos para ver melhor". Após a leitura dos livros, estimulamos os alunos a falarem sobre o que leram para, posteriormente, iniciar atividades de escrita significativa, ou seja, de uma escrita que possua valor, que não seja um exercício para simples obtenção de nota. Nosso trabalho ainda está em andamento, mas acreditamos que tenha rendido bons resultados parciais, uma vez que os alunos mostram-se interessados em ler e em falar acerca do que leram. Se nossa intenção é encantar leitores, impelidos a criar, não devemos reduzir o ato de ler a um processo rígido, utilitário. Formar leitores pode ser o resultado da imposição de listas de leituras aos discentes, mas encantar leitores nasce da liberdade de escolha, do respeito às aspirações do sujeito. A formação de leitores pode ser limitada às classes escolares, mas encantar leitores transcende a escola, é irreversível.
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