AS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO NA SÉRIE DE DESENHO ANIMADO OS SIMPSONS
Resumo
Apresentamos, a partir desse resumo, os resultados finais da pesquisa 223Os Simpsons: uma questão de gênero224, a qual foi apresentada ao Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul como tarefa integrante das disciplinas de Pesquisa Aplicada à Psicologia I e II. A pesquisa teve como objetivo geral identificar algumas representações de gênero, especialmente àquelas relacionadas à temática trabalho, presentes na série de desenho animado240Os Simpsons. A opção por investigar esse tipo de mídia, isto é, o desenho animado, se deu pelo fato dele abranger as mais variadas faixas etárias, configurando-se enquanto um dispositivo pedagógico que opera na constituição de seus telespectadores. Em relação aos240Simpsons, sabe-se que a série é produzida desde 1989 e transmitida na televisão aberta brasileira ainda hoje, trazendo em seus episódios temas polêmicos que, muitas vezes, dão margem a diversas interpretações acerca dos conteúdos envolvidos e do contexto no qual são produzidos. O referencial teórico da pesquisa foi concebido, principalmente, a partir dos estudos de Rosa Maria Bueno Fischer e Guacira Lopes Louro. A metodologia consistiu na análise de cinco episódios da série animada, sendo eles: 223Vocações diferentes224, da 3ª temporada, 223Marge arranja um emprego224, da 4ª temporada, 223Propriedade indesejada224, da 9ª temporada, 223Grande Marge224, da 10ª temporada e240223Sorvete de Marge (com cabelos azuis claros)224,240da 18ª temporada. A escolha desses foi feita com base em seu conteúdo, ou seja, pelo fato de abordarem, de forma mais marcante, a temática escolhida pelo presente estudo. Dos episódios analisados emergiram três unidades analíticas, a saber: a questão da divisão sexual do trabalho, a dupla jornada de trabalho exercido pela mulher e, por último, a busca da mulher pelo seu reconhecimento dentro e fora do ambiente240doméstico. Desta maneira, é possível perceber que, a partir de uma forma peculiar, a série Os Simpsons elucida e nos faz refletir sobre uma gama de questões referentes ao gênero que se fazem presentes em seu enredo. Nota-se que, apesar de fazer uma sátira à sociedade contemporânea, os episódios continuam a reproduzir uma visão de gênero conservadora e centrada na ideia de uma família nuclear patriarcal, onde o homem tem a função de prover o sustento, enquanto à esposa são atribuídas as funções de cuidado do lar, dos filhos e da família como um todo. No que tange a dupla atribuição feminina, isto é, tanto na esfera pública quanto na privada, temos que, mesmo com a crescente entrada da mulher no mercado de trabalho, as atribuições historicamente definidas como femininas (referidas ao 223cuidar224) dificilmente lhe são isentadas ou compartilhadas com o homem. Na análise sobre o reconhecimento do trabalho feminino, dentro e fora do ambiente doméstico, percebe-se, a partir dos episódios, que há uma desarticulação entre o trabalho produtivo, que é remunerado, e o trabalho reprodutivo, que está ligado ao cuidado e reprodução social. Tal realidade pode advir das transformações nas relações de trabalho provenientes do capitalismo, assim como, da emergência de um mercado assalariado. É produzida uma naturalização das relações de gênero, na qual é legitimada a distinção entre o mercado de trabalho e o trabalho doméstico. As mulheres, nesse sentido, são deslocadas a uma fronteira tensionada, em que é produzida uma figura feminina que, para obter reconhecimento no enredo social, necessita construir projetos que não se restrinjam a vida doméstica.
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