OFICINAS POÉTICAS: ENCONTROS ENTRE CRIANÇAS E ADULTOS COM A LUDICIDADE DAS DIMENSÕES DA LINGUAGEM

TAMIRIS ZINN, SANDRA REGINA SIMONIS RICHTER

Resumo


O projeto 223Dimensão Poética das Linguagens e Educação da Infância224, vinculado ao grupo de pesquisa Linguagens, Cultura e Educação da UNISC, focaliza o estudo da relação entre imaginação poética e educação de crianças pequenas. O termo 223poético224 remete ao termo grego poïein 226 o vigor do agir em linguagem 226 como elemento fundamental não apenas dos fazeres mas de tudo isto que é vida narrada enquanto história em sua acepção de devir. Para investigar a potência inventiva da inter-relação entre as dimensões da linguagem, o grupo organizou o projeto de extensão Oficinas Poéticas que permitiu compreender a importância da articulação entre o campo conceitual que envolve a educação da infância e o planejamento de encontros entre literatura e artes plásticas com crianças pequenas. A partir de leituras orientadas e discussões semanais junto ao grupo, foram realizados encontros entre pesquisadores, colegas bolsistas, crianças entre quatro e cinco anos e professoras de uma EMEI de Santa Cruz do Sul no ateliê do Memorial da UNISC. As oficinas foram por mim registradas através de relatos escritos, fotos e vídeos que, organizados e analisados pelo grupo, contribuíram para a descrição e a reflexão das narrativas ali vividas. A metodologia no ateliê consistiu num processo de interação propositiva entre as crianças e os adultos e envolveu a oferta de ações planejadas e organizadas nos espaços e tempos do ateliê. Com as crianças vivemos diferentes interlocuções a partir de intensas experiências, com diferentes materialidades em diversas rodas poéticas nas quais adultos e crianças brincaram e jogaram, tomaram decisões, enfrentaram os acasos, ensaiaram tentativas. O objetivo foi desenvolver estudos teóricos e metodológicos voltados para ações pedagógicas da conquista de repertórios com crianças desafiadas a transformarem, brincando, a materialidade do mundo pelas provocações ao corpo e seu poder de estar e agir em linguagem. Em Merleau-Ponty (1999), a expressão se dá no movimento do corpo: ao expressar-se o corpo move a si próprio. Isto é, o corpo não se move para expressar-se: ele se expressa movendo-se. Na dinâmica do corpo provocado pela materialidade do mundo emerge o regozijo de animar as coisas e emprestar-lhes uma existência poética em sua conquista linguageira de brechas entre vida real e vida fabulada (RICHTER; FRONCKOWIAK, 2010). A partir das fenomenologias da imaginação criadora em Gaston Bachelard e do corpo sensível em Merleau-Ponty, o planejamento das oficinas poéticas priorizou como as crianças podem engendrar experiências que as permitissem jogar com as possibilidades expressivas do corpo em linguagem e não o que deveriam alcançar como resultado prévio. As interações no ateliê permitiram constatar que a intencionalidade de repetir as mesmas ações 226 vocalizar e escutar poesias, desenhar, ler e escutar histórias, pintar e modelar 226 através de diferentes rodas: no chão, nos cantos, em volta das mesas, dos livros ou dos retroprojetores, favoreceram a produção 226 entre adultos e crianças 226 de narrativas que foram tecendo os encontros. A inclusão do ateliê, através da composição de rodas poéticas, redimensiona o planejamento na educação infantil ao afirmar a inter-relação entre as dimensões da linguagem que se provocam reciprocamente pois diz respeito à ludicidade do encontro 223brincante224 entre adultos e crianças, e não ao 223ensino224 do desenho, da pintura, da poesia, enquanto modos de ambos ampliarem repertórios em suas interações linguageiras.



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