IDOSOS NO CONTEXTO RURAL

ANA LUISA TEIXEIRA DE MENEZES, KELLY JULIEM MULLER

Resumo


A interseção da Psicologia com os contextos rurais iniciou-se a partir do campo da Psicologia Social Comunitária, nas décadas de 1960 e 1970. Contudo, ainda hoje, percebe-se que os profissionais da psicologia concentram-se nos centros urbanos e poucos são os estudos encontrados sobre o meio rural e os idosos que vivem nesse contexto. Diante da relevância desse tema, foi realizada uma investigação proposta na disciplina de Psicologia Comunitária I, que compreende uma entrevista e duas observações participantes em uma comunidade rural, no interior da cidade de Palmitos, Santa Catarina, bem como uma revisão bibliográfica acerca do tema. Os objetivos desse trabalho constituíram-se em compreender questões relativas ao envelhecimento no meio rural, tais como saúde, situação econômica, migração, transporte, relações familiares, sentimento de identidade, possibilidades de convivência e propostas de intervenção dos profissionais da psicologia. Em referência às relações familiares, constatou-se que estas apresentam um grande efeito protetivo, o que está relacionado principalmente à possibilidade de convivência intergeracional proporcionada pelo espaço doméstico rural. Também pôde ser analisada a posição do idoso no arranjo familiar, sendo encontradas as seguintes categorias: chefe de família ou parente do chefe da família, sendo que esta última foi a mais encontrada na comunidade visitada. Com relação ao sentimento de identidade, este é um importante benefício da residência em meio rural, pois tal espaço promove a criação de ampla e íntima rede de relações, na qual todas as pessoas se conhecem, o que vem a ser um fator preventivo contra a alienação e o abandono. O transporte para os idosos do meio rural se configura como privilégio, já que nem todos possuem condução própria, ficando dependentes ou de um transporte coletivo, cuja passagem é cara e o acesso é difícil, ou da solidariedade de vizinhos que possuem automóvel. A respeito da saúde, a população rural idosa é menos assistida do que a urbana, devido ao número muito pequeno de unidades básicas de saúde no meio rural, da falta de profissionais nesses locais, que comumente estão em más condições estruturais, da ausência de políticas públicas específicas e da longa distância dos grandes centros que possuem tratamentos mais complexos. O trabalho no campo, para a população idosa, é um valor fundamental e está associado à fonte de renovação, sendo que, para a maioria, a aposentadoria não representa o fim do trabalho, apenas um acréscimo na renda. Os idosos rurais, ainda, vivenciam continuamente o processo de migração da população rural para os centros urbanos, especialmente da população mais jovem, que busca melhores condições de vida e de trabalho, bem como da própria população idosa, motivada por questões de saúde, já que procuram maior acesso a hospitais e pronto-atendimentos. Em relação aos grupos de convivência, estes permitem o encontro entre os idosos para momentos de lazer, descontração e informação, sobretudo através de jogos, brincadeiras e da dança. Com este estudo, pode-se perceber que a literatura acerca da vida dos idosos em contexto rural se aproxima da realidade da comunidade visitada. Constatou-se, também, a importância da intervenção de profissionais da psicologia, que podem proporcionar melhores condições de vida para os idosos em seu espaço territorial e a relevância de mais produções acadêmicas nesta área.


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