A dificuldade inerente à condição humana de enfrentar a realidade tem conduzido os sujeitos à busca de mecanismos de fuga de qualquer natureza. Freud, no texto "O mal-estar na civilização" (1930), ressalta que as drogas fazem parte do arsenal que a humanidade sempre lançou mão para entorpecer a consciência, na tentativa de afastar de si infortúnios advindos tanto do próprio organismo, como do mundo externo, e, assim, imunizar-se àquilo que pode causar sofrimento. Esta constatação nos aproxima da compreensão de que o uso de drogas é uma questão histórica e complexa, apesar de se destacar como uma das grandes preocupações da atual sociedade. A fim de investigar a dinâmica de vida e as diversas relações que permeiam o contexto sociocultural e familiar dos sujeitos que estabelecem relação de dependência com as drogas, a pesquisa "A Realidade do Crack em Santa Cruz do Sul" entrevistou cem usuários de crack e cem familiares destes, residentes no município. A pesquisa tem caráter qualitativo e quantitativo e utiliza a metodologia de análise dos sentidos produzidos no cotidiano (SPINK, 2000), para reflexões e problematizações dos discursos produzidos pelos entrevistados. A partir dos resultados da pesquisa, divulgados em revistas e congressos, compreendemos a necessidade de construir práticas de extensão, com o objetivo de promover espaços de informação e diálogo sobre o uso de drogas, bem como de propiciar um contexto aberto de promoção da saúde e de prevenção do uso entre escolares do município. Neste sentido, nasce o Fórum de Discussão sobre Drogas na Contemporaneidade, projeto este que completa neste ano de 2015 a sua 5ª edição e configura um modo de intervenção baseado em reflexões críticas advindas das análises dos dados da pesquisa. As atividades desenvolvidas nos Fóruns são organizadas coletivamente no grupo de pesquisa, que reúne estudantes e docentes da UNISC, caracterizando um contexto de socialização dos dados da investigação (já na sua 3ª etapa), de aprendizagem e de formação. Participam dos Fóruns os integrantes da rede de ensino municipal e estadual da região e a rede de atenção à saúde. No ano de 2014, o fórum apresentou-se com o tema "Promovendo Encontros, Fortalecendo Vínculos", evidenciando o caráter interativo e consonante com a proposta de conectar saberes e discussões intersetoriais sobre a temática. Para tanto, utilizou-se a metodologia do Teatro do Oprimido, associada a diversas rodas de conversa, o que possibilitou uma interação lúdica de criticidade e construção de conhecimento, bem como a livre circulação da palavra entre todos os presentes. Ao final, o conhecimento produzido foi organizado e analisado no coletivo, proporcionando um espaço de desconstrução de preconceitos e elencando uma discussão intersetorial sobre caminhos de cuidado, que possibilitem um olhar de prevenção para o uso problemático de drogas, assim como a promoção de saúde como importante ferramenta na possibilidade de construção de saberes e práticas relacionadas à drogadição. Destacamos, a partir da prática de trabalho realizada no Fórum, que fica evidente a articulação produtiva entre a tríade ensino-pesquisa-extensão, de forma que a produção de conhecimento se articula a construção de saberes e práticas que mobilizam e adentram o contexto social de forma crítica e consciente com a realidade.