No final do século XVII, o pesquisador alemão Tobias Peucer apresentou, em um trabalho doutoral, uma pesquisa acerca das consequências da imprensa periódica sobre o cotidiano social dos anos 1690. Em 1972, nos Estados Unidos, os pesquisadores Maxwell McCombs e Donald Shaw recuperaram o tema proposto por Peucer (1690) e desenvolveram pesquisas mais contundentes acerca da relação dos fenômenos jornalísticos e a agenda pública. Para os pesquisadores, o Agenda Setting objetiva a procura do entendimento dos efeitos dos meios de comunicação na opinião pública. A teoria do Agendamento, por sua vez, está relacionada ao Gatekeeper, já que é preciso um profissional (ou mais) para selecionar o que vai ser notícia - ou não - nos veículos de comunicação. Dentro deste processo, há o Newsmaking - a escolha do assunto (critérios de noticiabilidade), até a finalização e divulgação do produto (fato com status de notícia). Hoje, com a ascensão das tecnologias da informação, a comunicação assume uma pista de mão dupla e se estabelece com muito conteúdo gerado e divulgado pelo público. Assim, acredita-se ser pertinente refletir de modo crítico sobre a aplicabilidade da hipótese do Agenda Setting, Gatekeeper e Newsmaking no cenário atual. Afinal, qual é a origem do fato? Quem seleciona os fatos e as informações a serem publicados? A mídia agenda a opinião pública ou vice-versa? Como os usuários das redes sociais interferem no Newsmaking? Diante do exposto, define-se como objetivo geral deste trabalho: compreender de que modo o Jornal Gazeta do Sul, de Santa Cruz do Sul, tem se apropriado das publicações de internautas nas redes sociais e qual o tratamento dado a este conteúdo. Já os objetivos específicos são: 1) Mapear casos emblemáticos do jornal Gazeta do Sul que tenham sido pautados por cidadãos comuns e identificar quais valores-notícia justificam a publicação destas pautas; 2) Entender como foi o processo produtivo dos casos analisados; 3) Fazer uma releitura da hipótese do Agenda Setting e da teoria do Gatekeeper no cenário de convergência jornalística. Ancorados nos objetivos, realizou-se uma análise de conteúdo de seis matérias e/ou reportagens veiculadas no jornal Gazeta do Sul, além de entrevistas com o chefe de reportagem e com dois repórteres do veículo. Assim, a partir da retomada de três importantes teorias da prática jornalística, pode-se compreender que a rotina do profissional do jornalismo vem sofrendo severas adaptações. O empoderamento das informações e a figura central dentro do sistema de agendamento do cotidiano da sociedade agora não é mais algo exclusivo das mídias ou dos jornalistas. O ciberespaço trouxe um novo paradigma e uma nova lógica de se fazer jornalismo. E isso pode ser observado com significativa importância: o meio tecnológico estreitou os laços entre a sociedade e os mass media. Contudo, nota-se que na internet o internauta e as mídias tradicionais travam uma batalha pela conquista deste espaço. Conclui-se que, embora o jornalismo ainda apresente características de sua prática-padrão, a internet e suas ferramentas - sobretudo Facebook, no caso do jornal estudado -, alterou, em parte, a rotina dentro da redação. É nítida a preocupação dos jornalistas da Gazeta do Sul em incorporar a lógica convergente em seus processos produtivos, monitorando o conteúdo do ciberespaço. Mesmo que se tenha identificado as teorias do Gatekeeper, Newsmaking e Agendamento, percebe-se que elas merecem uma releitura no atual cenário midiático.